22/12/2007

Natal no Brasil Volume 2 [BRLP 102]

Com o segundo volume da coletânea “Natal no Brasil”, o Bossa-Brasileira se despede das atividades neste ano de 2007. Desejamos a todos os amigos um Feliz Natal e um ano novo com muita paz, muito amor e muita música para todos nós.

O lado mais nostálgico e contemplativo do Natal Brasileiro aparece neste segundo volume. A favela, a solidão das cidades, o sertão, a infância... São faixas que resgatam a memória afetiva do Natal no Brasil, é o momento em que a festa cede espaço para a reflexão, reforçando o significado religioso da celebração universal que tomou moldes únicos na cultura brasileira. Estão presentes as vozes de Ângela Maria, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dalva de Andrade, Paraguassú, Ivon Curi, João Dias, Gastão Formenti, Inezita Barroso; além das vozes de duos como Tonico e Tinoco, Alvarenga e Ranchinho, Laranjinha e Zequinha, Flauzinho e Florêncio, Duo Brasil Moreno, Irmãs Maria, mais os conjuntos do guitarrista Poly, do Maestro Radamés Gnattali e outros. Entre os compositores estão nomes como os de David Nasser, Francisco Alves, Lamartine Babo, Mário Albanese, Paraguassú entre muitos outros. É um convite a relembrarmos de uma época em que o Natal significava muito mais do que infelizmente significa hoje.

“Natal no Brasil” Volume 2 [BRLP 102]

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01 Ângela Maria “Outros Natais” [Cláudio Luiz] 1956
02 Francisco Alves “Cantiga de Natal do Brasil” [Násser, Martins, Francisco Alves] 1951
03 Paraguassú “Natal dos Caboclos” [Ariovaldo Pires, Paraguassú] 1938
04 Carlos Galhardo “Sonho de Natal” [Sanches de Andrade] 1941
05 Alvarenga & Ranchinho “Meu Presente” [Alvarenga e Ranchinho]
06 Flauzinho & Florêncio “Sinos de Natal” [Flauzinho, Florêncio] 1939
07 João Dias “Jingle Bells” [Pierpont versão Evaldo Rui] 1951
08 Orlando Silva “A Valsa do Natal” [Hilton Gomes, Sivan] 1953
09 Laranjinha & Zequinha “Natal no Sertão” [Reinaldo Santos, Vicente Lia] 1953
10 Irmãs Maria “Nosso Natal” [Irmãs Maria]
11 João Dias “Fim de Ano” [Francisco Alves, David Nasser] 1951
12 Dalva de Andrade “Alegre Natal” [Nina Sercil] 1959
13 Tonico & Tinoco “Papai Noel” [Tonico e Tinoco] 1956
14 Inezita Barroso “Entrai Pastorinhas” [loa pastoril do sec XVIII] 1959
15 Poly & Côro “Estrela do Menino Pobre” [Mário Albanese, Gioia Jr] 1961
16 Gastão Formenti “Sonhos de Natal” [Henrique Vogeler, J. Menra, Lamartine Babo] 1929
17 Ângela Maria “Não Chore Linda Criança” [Guido Medina, Harry Marques] 1954
18 Ivon Curi “Quando Chega o Natal” [Sereno] 1957
19 Poly & Côro “Natal dos Caboclos” [Ariovaldo Pires, Paraguassú] 1961
20 Duo Brasil MorenoNoite Feliz” [Franz Gruber, versão Mário Zan] 1956
21 Trio Madrigal, Trio Melodia & Conjunto Radamés Gnattali “Cantigas de Natal parte 1”

Feliz Natal!

21/12/2007

Natal no Brasil Volume 1 [BRLP 101]

O Bossa-Brasileira tem a felicidade de apresentar “Natal no Brasil”, uma coletânea em dois volumes apresentando a música brasileira do passado criada especialmente para a celebração do Natal. São 20 faixas neste primeiro volume com músicas registradas entre 1933 e 1956 por diversas casas gravadoras. O Brasil, nosso gigante tropical, não poderia apenas reeditar as canções natalinas em voga há muitos anos mundo afora. Criamos canções próprias, muitas vezes tão ou mais belas, e tão fortemente gravadas em nosso imaginário, quanto as “estrangeiras”. São as músicas do Natal Brasileiro que esta coletânea resgata. O Natal que era [e ainda é] celebrado nas casas simples dos recantos pacatos dos sertões, nas cidades sopradas pelo vento salgado que vem do nosso mar, nas vilas e moradias cravadas nas serras e no manto escuro das mata fechadas. O “Natal no Brasil” é cantado em verso e melodia por nossas maiores vozes do passado: as vozes de Francisco Alves, Aurora Miranda, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Leny Eversong, Ângela Maria e João Dias, Carmen Miranda, Dick Farney, Alvarenga e Ranchinho, Blackout, Neide Fraga e Zelinha do Amaral. Os cantores tem acompanhamento especial de maestros e conjuntos como os de Radamés Gnattali, Maestro Fon-Fon, Maestro Severino Filho, os conjuntos Diabos do Céu, Trio Madrigal, Trio Melodia, Aloysio e seu Conjunto e outros infelizmente não creditados. Entre os compositores estão nomes como Ary Barroso, Herivelto Martins, Hervé Cordovil, Lina Pesce e David Nasser.

“Natal no Brasil” - Volume 1 [BRLP 101]

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01 Conjunto Radamés Gnattali “Introdução: Cantigas de Natal parte 2” [introdução]
02 Carlos Galhardo & Diabos do Céu “Boas Festas” [Assis Valente] 1933
03 Aurora Miranda “Natal Divino” [Milton Amaral] 1935
04 Leny Eversong “Prece de Natal” [Saccomani, Tedesco, Melo] 1956
05 Neide Fraga “Quando Chega o Natal” [Sereno]
06 Zelinha do Amaral “Presente de Natal” [Alvarenga, Ranchinho] 1936
07 Francisco Alves “Meu Natal” [Ary Barroso, Francisco Alves] 1934
08 Aurora Miranda “Sinos de Natal” [André Filho] 1934
09 Carmen Miranda “Dia de Natal” [Hervé Cordovil] 1935
10 Francisco Alves & Côro “Natal” [Herivelton Martins, Rogério Nascimento] 1945
11 Elizeth Cardoso “Cantiga de Natal” [Lina Pesce] 1956
12 Dick Farney “Feliz Natal” [Armando Cavalcanti, Klécius Caldas] 1949
13 Ângela Maria & João Dias “Papai Noel Esqueceu” [David Nasser, Herivelto Martins] 1956
14 Francisco Alves “Sinos de Natal” [Victor Simon, Wilson Roberto] 1951
15 Blackout “Natal das Crianças” [Blackout] 1956
16 Alvarenga & Ranchinho “Noite de Natal” [Alvarenga, Newton Teixeira] 1941
17 Orlando Silva “Noite de Natal” [Maugéri Neto, Maugéri Sobrinho] 1952
18 Carlos Galhardo “Feliz Natal” [Ghiaroni, Peterpan] 1950
19 Dalva de Oliveira & Roberto Inglez “Noite de Natal” [Franz Gruber, versão Mário Rossi]
20 Trio Madrigal, Trio Melodia & Conjunto Radamés Gnattali “Cantigas de Natal parte 2”

Feliz Natal!

18/12/2007

Radamés Gnattali 1955 "Samba em 3 Andamentos" [Sinter SLP 1037]



“Há que falar também de um compositor novo, mal conhecido dos paulistas, o gaúcho Radamés Gnattali. Tem uma habilidade extraordinária para manejar o conjunto orquestral, que faz soar com riqueza e estranho brilho. É certo que “jazzifica” um pouco demais para o meu gosto defensivamente nacional, mas apesar de sua mocidade, já domina a orquestra como raros entre nós. É a nossa maior promessa do momento.” Este texto foi publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo, em 12 de fevereiro de 1939. Seu autor foi o escritor, poeta, compositor e musicólogo Mário de Andrade. Mais que profético, Mário foi incisivo: “é a nossa maior promessa.” E foi. Tanto que passados quase 70 anos a afirmação resiste: em toda a longa trajetória de músico brasileiro, Radamés Gnattali justamente teve habilidades extraordinárias, dominou sua arte como poucos, sim “jazzificou” também, mas criou música brasileira de grande riqueza e estranho brilho.

Este disco em 10 polegadas foi lançado pela gravadora Sinter em 1955, traz o seu piano e uma partitura ousada: na bela capa assinada por Bréves há uma inscrição que diz: “a história musical do samba”. O disco foi lançado quando Radamés já era grande nome no cenário artístico brasileiro. Na contracapa Paulo Santos escreve: “O Samba em Três Andamentos consta de três peças sem ligação entre si ... porém podem ser usadas sem interrupção, como uma suíte de caráter popular, ou isoladamente pois cada andamento é em si uma peça autônoma. Não houve preocupação de fazer algo diferente ou erudito. Apenas apresentou o piano tal como se executa hoje em dia...” Como se executará amanhã, seria mais apropriado.

Radamés reservou para esta gravação o direito de apenas tocar o piano, a partitura orquestral escrita por ele ficou a cargo de Lyrio Panicalli e foi curiosamente composta sem a adição de instrumentos de sopro, apenas cordas, piano e percussão - a cargo do mestre Luciano Perrone. Em “Samba em Três Andamentos” Radamés Gnattali sintetiza talvez pela primeira vez, a possibilidade de se sofisticar o samba sem alterar a sua essência. O resultado é o samba moderno, o mesmo que desafiou Vinicius de Moraes, seduziu Antônio Carlos Jobim e pasmou Egberto Gismonti. O dedilhado inusitado e preciso antecipa em anos luz, a música brasileira posterior e a atual.

Este disco é também um dos raros registros do Maestro Radamés Gnattali tocando solo ao piano em todo o lado B - o lado A é ocupado pela suíte-título. Nas cinco peças para piano solo, Radamés está à vontade em choros, valsas e um samba-canção. Ainda que despidas do acompanhamento orquestral do “Samba em Três Movimentos” estas são também peças de música mágica que espelham o retrato preciso do que o Maestro batizou de história musical do samba. E que bela lição!

o Maestro em fotografia de 1934

Radamés Gnattali 1955 "Samba em 3 Andamentos" [Sinter SLP 1037]

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01 Samba em 3 Andamentos 1º Movimento Samba de Morro [Gnattali]
02 Samba em 3 Andamentos 2º Movimento Samba-canção [Gnattali]
03 Samba em 3 Andamentos 3º Movimento Samba Batucada [Gnattali]

Radamés Gnattali: piano
Luciano Perrone: bateria e ritmo
Orquestra de Cordas dirigida pelo maestro Lyrio Panicalli


04 Canhoto [Gnattali] choro
05 Vaidosa [Gnattali] valsa
06 Noturno [Gnattali] samba-canção
07 Perfumosa [Gnattali] valsa
08 Porque [Gnattali] choro

Radamés Gnattali: piano

Outras informações sobre Radamés Gnattali podem ser encontradas no excelente website:

http://www.radamesgnattali.com.br/

Radamés Gnattali em fotografia de 1940.

07/11/2007

"Os Duetos de Francisco Alves e Mário Reis" 1930 - 1932 Odeon [MODB 3075]


Já foi dito que o Brasil é um país de cantores. Olhando para trás, no caleidoscópio histórico dos grandes ídolos da voz, temos a confirmação. A introdução do rádio e sua grande influência na vida das pessoas tornaram possível o surgimento de fenômenos de popularidade em massa - alguns deles com a aura de “vozes de ouro” do rádio. Eram tempos em que a produção podia ser permeada pela qualidade artística do que se ouvida nos aparelhos. Nenhuma destas vozes porém teve o mesmo efeito no coração brasileiro como a voz , digamos, fenomenal de Francisco Alves. Ele foi o primeiro grande ídolo do rádio e do disco, esteve presente na formação do teatro e do cinema por aqui. Sem intenção, criou uma escola de influência direta em todo o desenvolvimento da música brasileira. Foi um artista de ouvido apurado, afinação e timbres perfeitos e de bom gosto impecável. Compositor importante, ao lado das boas histórias de que “inventava” parcerias, ou mesmo as comprava, há também provas que ele realmente chegou a alterar tempos, compassos e corrigir as composições de seu agrado sem pedir participação na edição. Há também histórias envolvendo sua relação por vezes autoritária com seus “colaboradores”, como os amigos e companheiros de boemia Noel Rosa e Ismael Silva. Menino pobre, Francisco Alves foi engraxate, cresceu trabalhando em uma fábrica de chapéus, convivendo com boêmios e sambistas. Não assinava contratos, preferindo empenhar a palavra, era admirado por todos os seus colegas de profissão e ganhou o apelido de “Chico Viola, o Rei da Voz”.

Mesmo tendo iniciado a trajetória artística um tanto depois, foi Mário Reis quem primeiro colocou a cadência necessária ao samba, mais tarde absorvida por Chico. No texto de contra capa deste disco, Lúcio Rangel afirma: “apesar de mais novo em idade e em arte, foi Mário Reis quem exerceu influencia sobre a maneira de cantar de seu companheiro mais velho, como aliás, sobre todos os cantores da época, que moderaram os seus impulsos para o bel canto e passaram a pronunciar as palavras, interpretando dentro do ritmo exigido.” Levado pelo compositor Sinhô aos estúdios, Mário Reis teve também grande sucesso e deixou gravações históricas.

A gravadora Odeon valendo-se da amizade entre seus maiores cantores, lançou uma série de discos em 78 rotações com eles cantando em dueto. Era o início dos anos 30 e o resultado foi pouco mais de 11 discos antológicos. Além das duas vozes distintas que interagem entre si criando efeitos inesperados, a música que as acompanha não é menos sublime. Segundo Lúcio Rangel, os conjuntos “eram todos eles constituídos pelos mesmos músicos, alguns dos melhores da época: o pistonista Djalma, o trombonista Ismerino Cardoso, o pianista Romualdo Peixoto [Nonô], o baterista Walfrido Silva, o violonista Arthur Nascimento [Tute] e Luperce Miranda, mestre do cavaquinho e do bandolin. Outros instrumentistas estão presentes mas os que enumeramos eram constantes em todos os conjuntos que acompanhavam a dupla. O discófilo de ouvido apurado poderá reconhecer no côro, em diversos números, as vozes de Noel Rosa, Ismael Silva e Nilton Bastos.” Incrível... Logo após as primeiras gravações da dupla, um conjunto chamado “Ases do Samba” foi criado pelos dois cantores mais Lamartine Babo. Com este grupo, sem Lamartine, porém com Nonô, Noel Rosa e o bandolinista Peri Cunha, partiram em Março de 32 para uma excursão ao sul do país, se apresentando com grande êxito em Curitiba, Porto Alegre, e até mesmo em Florianópolis.

Este disco de 10 polegadas, lançado em 1955, reúne algumas destas gravações. Sambas e marchas eternos como “Formosa” de Nássara e J. Ruy, “Se Você Jurar” de Francisco Alves, Ismael Silva e Nilton Bastos e “Fita Amarela” de Noel Rosa. Sambas que foram famosos na época, como “Estamos Esperando” de Noel Rosa, “Mas Como... Outra Vez?” de Noel em parceria com Francisco Alves, num belo arranjo que começa como marcha e termina como um fox irado; e minha favorita “Tudo Que Você Diz” uma bela e moderna melodia de Noel Rosa, ainda mais realçada pelas vozes de Mário Reis e Francisco Alves. Há ainda “Marchinha do Amor” de Lamartine Babo e mais dois sambas do trio Francisco Alves, Ismael Silva e Nilton Bastos: “Não Há” e “Arrependido”. É uma grande alegria disponibilizarmos este disco, como escreveu Lúcio Rangel: Francisco Alves e Mário Reis, a maior dupla de cantores da nossa música popular, anos depois de gravarem seus históricos discos, continuam a despertar a mesma emoção, a mesma alegria, tal encanto de suas interpretações, tal beleza que sabiam imprimir aos números que, em boa hora, registraram para a posteridade.”

Os Duetos de Francisco Alves e Mário Reis
1955 Odeon [MODB 3075]

01 Marchinha do Amor [Lamartine Babo] marcha 1931
02 Fita Amarela [Noel Rosa] samba 1932
03 Formosa [Nássara, J. Ruy] marcha 1932
04 Se Você Jurar [Francisco Alves, Ismael Silva, Nilton Bastos] samba 1930
05 Mas Como... Outra Vez? [Francisco Alves, Noel Rosa] marcha 1932
06 Arrependido [Francisco Alves, Ismael Silva, Nilton Bastos] samba 1931
07 Estamos Esperando [Noel Rosa] samba 1932
08 Tudo Que Você Diz [Noel Rosa] samba 1932
09 Não Há [Francisco Alves, Ismael Silva, Nilton Bastos] samba 1930

31/10/2007

Araci de Almeida 1951 "Noel Rosa" [Continental Volume 2]

Com este álbum bastante especial, marcamos a volta das atividades em nosso site, agora em novo visual. O motivo é simples: este é um dos primeiro álbuns produzidos no Brasil. Trata-se do segundo volume de um álbum que trazia três discos de 78 rpms [os dois volumes totalizam seis discos] encadernados com capas duras como num álbum de fotografias, daí a origem do uso desta palavra para descrevê-los.

“Noel Rosa” foi lançado no início de 1951, seguindo uma tendência do mercado norte-americano, que vinha organizando os discos de 78 rpms em coleções encadernadas já há alguns anos. No Brasil, as pioneiras a lançarem estes álbuns foram a representante nacional da gravadora Capitol e a Continental. Entre 1950 e 1951 a Continental lançou três destes álbuns, os dois volumes de “Noel Rosa” na voz de Araci de Almeida e um outro com músicas do compositor Sinhô na voz do cantor Mário Reis. Estes foram os primeiros lançamentos fonográficos no Brasil a ganharem capas coloridas e textos informativos, elementos que mais tarde caracterizariam os long-playings. Os dois volumes de “Noel Rosa” trazem na capa uma belíssima gravura colorida feita por Di Cavalcanti especialmente para este lançamento, um assombro de criatividade que se fazia presente naqueles anos, como valorização da cultura nacional.

Além da bela embalagem, o segundo volume de “Noel Rosa” na voz de Araci de Almeida, coloca novamente a cantora ao lado da orquestra de Radamés Gnattali para mais seis regravações de sambas consagrados de Noel Rosa. Há um longo texto sobre o sambista da Vila Isabel de autoria de Lúcio Rangel, além de sua auto caricatura. Sobre Araci o texto ficou à cargo de Fernando Lobo, com caricatura de Augusto Rodrigues datada de 1947. E claro, há a música, os clássicos como “Feitio de Oração”, “Silêncio de Um Minuto”, “Pra Que Mentir”, “Três Apitos”, “Com que Roupa” e “O Orvalho Vem Caindo”, estas últimas em arranjos animados com participação vocal e instrumental dos trios Madrigal e Melodia. Contrastando com os sambas-canção doloridos que ganham dimensão na interpretação consagrada da “Dama do Encantado”. Os arranjos oscilam entre a tímidamente entre as orquestrações originais e a inovação. Não há música ou passagem que se destaque em um disco perfeito, mas ouso opinar que aqui está a mais bela gravação de “Feitio de Oração”. Segundo Noel Rosa, Uma Biografia de João Máximo e Carlos Didier [Editora da UNB, 1990], “Três Apitos” ainda era inédita em discos e “Silêncio de Um Minuto”, seria gravada pela primeira vez com a letra completa - a gravação anterior foi feita em 1940 pela grande cantora Marília Batista, tão importante para a obra de Noel quanto Araci, e que estará sendo revisitada em futuros posts por aqui.

Para ir além, o primeiro volume deste álbum histórico foi postado alguns meses atrás pelo site loronix, e pode ser baixado aqui. Nele estão as faixas “Palpite Infeliz”, “Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila”, “Último Desejo”, “Não Tem Tradução” e “O X do Problema” Fica a indicação e o nosso agradecimento.


Araci de Almeida ao lado do avião produzido em homenagem a Noel em foto de José Medeiros, 1949; abaixo auto caricatura do sambista.


Araci de Almeida “Noel Rosa” Volume 2
1951 Continental

caricatura de Aracy feita por Augusto Rodrigues em 1947.


01 Pra Que Mentir [Noel Rosa, Vadico] samba-canção 78 rpm 16391 A
02 Silêncio de Um Minuto [Noel Rosa] samba-canção 78 rpm 16391 B
03 Feitio de Oração [Noel Rosa, Vadico] samba 78 rpm 16392 A
04 Três Apitos [Noel Rosa] samba-canção 78 rpm 16392 B
05 Com Que Roupa [Noel Rosa] samba 78 rpm 16393 A
06 O Orvalho Vem Caindo [Noel Rosa, Kid Pepe] samba 78 rpm 16393 B

abaixo Aracy é beijada por Ary Barroso nos estúdios da Rádio Tupi, ao fundo Carlos Galhardo.

Margarida Lopes de Almeida 1955 "Recital" [Festa LPI 1004]


Na década de 1950 era comum o lançamento de discos com recitais de poesia no Brasil. Alguns destes LPs se tornaram grandes sucessos de vendas, como o “Bilac em Hi-Fi” da gravadora Musidisc, lançado em 1957, com o rádio-ator Floriano Faissal declamando Olavo Bilac, que chegou a estar no topo das paradas, segundo revistas da época. À exemplo da Musidisc, a Odeon e a RGE também colocaram na praça discos explorando este mercado. No entanto, nenhum outro selo foi tão radical quanto o pequeno Festa, fundado pelo jornalista, sonhador e boêmio, Irineu Garcia.

O selo Festa formou um catálogo tão impressionante quanto numeroso, com registros históricos das vozes e da obra de autores como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Cecília Meirelles, Guilherme de Almeida, Olegário Mariano, Menotti Del Picchia, Jorge Amado, Pablo Neruda... A lista é longa. Além dos próprios autores declamando seus poemas, os discos da gravadora Festa também destacavam atores conhecidos como Margarida Lopes de Almeida, Paulo Autran e outros. Um LP lançado por João Villaret, ator muito famoso na época, se destacou entre as vendagens do selo e fez enorme sucesso. O que talvez tenha incentivado Irineu a expandir sua gravadora e se aproximar da música. Seguindo o alto padrão de qualidade que buscava para seus discos, editou obras eruditas brasileiras e aos poucos foi se enamorando da música popular.

Conta o amigo Dorival Caymmi que: “o Irineu [Garcia] fazia aquilo por paixão, procurando artistas novos pela noite...” Apaixonado e convivendo com o meio desde os anos 40, Irineu não tardou a perceber que a produção musical no Brasil de sua época era algo de genial. “O interesse dele voltou-se para Elizete Cardoso, mas aí João Gilberto nem era conhecido ainda...” - continua Dorival. No entanto, através de Vinicius de Moraes, Irineu Garcia colocou pela primeira vez em um mesmo estúdio Antônio Carlos Jobim, João Gilberto e Elizeth Cardoso para registrarem “Canção do Amor Demais” [1958 Festa LDV 6002], disco considerado divisor de águas na história da nossa música.

O selo Festa ainda editou dois LPs fantásticos da cantora Lenita Bruno, ao lado da orquestra de seu marido, o grande maestro e pianista Leo Peracchi, e entre outros, colocou na praça discos de artistas fundamentais como Radamés Gnattali, Vadico e Nicolino Cópia.

Aqui temos Margarida Lopes de Almeida, atriz e declamadora, filha do casal de escritores Júlia Lopes de Almeida e Filinto de Almeida - estão entre os fundadores da Academia Brasileira de Letras -, interpretando poemas brasileiros com as inflexões vocais típicas da época, em dois “estilos” diferentes. No lado A: poesia digamos mais “tradicional”, representada por nomes do passado como Martins Fontes - na lúgubre e fantástica descrição da cidade de São Paulo em “Serenata”, e Olavo Bilac - com o famoso “Via Láctea”: “...amai para entendê-las, pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas.” No mesmo “espírito” estão Raul Machado, Afonso Lopes de Almeida [irmão de Margarida] e Artur de Sales - em “A Música dos Bilros” foram incluídos ruídos típicos destes pequenos instrumentos de madeira usados pelas rendeiras, em uma tradição secular que perdura do Brasil colônia e ainda pode ser encontrada em comunidades mais ou menos isoladas, distribuídas pelo nordeste e especialmente na Ilha de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis.

Já o lado B é preenchido por uma poesia um bocado mais “moderna”: com Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. “Há nos versos qualquer coisa que vai diretamente à emoção do ouvinte; este não tem tempo de ligar idéias, perceber intenções, as quais só na leitura pode com vagar apreender. A poesia ouvida tem de ser sentida imediatamente; é necessário que o poema impressione, seja pelo efeito da voz, seja pela possibilidade de efeitos plásticos que o intérprete ponha em jogo na representação”. Escreveu a artista Margarida Lopes de Almeida na contra capa deste pequeno LP em 10 polegadas lançado pelo extraordinário selo Festa em 1955, selo criado pelo sonhador Irineu Garcia que se preocupava até mesmo em creditar os artistas que faziam suas capas, nomes como Lígia Clark, Di Cavalcanti..., aqui: Athos Bulcão, com fotografia de Hess.


Recital de Margarida Lopes de Almeida
1955 Festa [LPI 1004]


01 Via Láctea [Olavo Bilac]
02 Serenata [Martins Fontes]
03 Póstuma [Raul Machado]
04 Ciranda [Afonso Lopes de Almeida]
05 A Música dos Bilros [Artur de Sales]
06 Romance de Nossa Senhora da Ajuda [Cecília Meireles]
07 Passagem da Noite [Carlos Drummond de Andrade]
08 Canção Balet [Mário Quintana]
09 Velocidade [Guilherme de Almeida]
10 Os Sinos [Manuel Bandeira]

06/08/2007

Stellinha Egg 1956 "Músicas do Nosso Brasil" [RCA Victor BLP 3022]

Ao lado de Inezita Barroso e Délora Bueno, Stellinha Egg se dedicou ao universo da música folclórica e chegou a ser reconhecida como principal intérprete do estilo. Nasceu em Curitiba e se destacou no rádio em São Paulo. Em 1945 casou-se com o genial maestro Lindolfo Gaya, que passou a arranjar seus discos, numa união também musical. Ao voltar de uma temporada no exterior, Stellinha ganhou um programa de TV dedicado à música folclórica do Brasil e do mundo. Gravou discos em produção luxuosa, um deles para crianças e lançou diversos clássicos do mestre Dorival Caymmi – alguns presentes aqui. Dorival, na época, declarou ser Stellinha a intérprete preferida de suas músicas.

“Músicas do Nosso Brasil” foi editado pela RCA Victor em 1956 em disco de 10 polegadas. As faixas haviam sido lançadas em diversos 78 rotações entre 1951 e 1954. São gravações antológicas de valor histórico e artístico incontestável. Canções, baiões, toadas e os chamados “batuques” - tudo em coesão impressionante, não parecendo tratar-se de uma coletânea. Ao vestir com tal exuberância algumas destas canções, Gaya não imaginou a dimensão histórica que o trabalho representaria. O disco é uma fusão entre música popular e elementos musicais das religiões afro-brasileiras. Algumas das músicas são adaptações de cantos e batuques apresentados de forma magnífica com orquestra e coral. O resultado chega a ser lisérgico como em “Recado à Yemanjá”, “O Vento” ou “A Lenda do Abaeté”.

Stellinha Egg tinha uma voz incomum, de brasilidade deliciosa. Em “Lamento Negro” [afro-samba muitos anos antes de Baden & Vinicius? Com certeza!] ela faz scats em yorubá, exalta “Xangô” e a certa altura parece estar “tomada”, isso enquanto a orquestra vira e revira do avesso as linhas de sopros e violinos escritos por Gaya em uma explosão de energia impressionante. Já “A Lenda do Abaeté” é lírica, orquestra e cantora em sintonia perfeita: “O luar prateia tudo, coqueiral, areia e mar... Credo-cruz que esconjuro, quem falou no Abaeté?”. Que voz! Caymmi não se rendeu à toa... Do mesmo modo, as versões de “O Mar” e “O Vento” são talvez as mais belas já gravadas.

“Músicas do Nosso Brasil” de Stellinha Egg, arranjos de Gaya é uma obra-prima. Belo, divertido, intrigante e misterioso. E também histórico e fundamental. Como bônus, incluímos duas faixas presentes nos 78 rpms que originaram o LP, mas não entraram na edição final: “Noite de Temporal” e “Nunca Mais” ambas de autoria de Dorival Caymmi. Ganhamos este presente do amigo Simon Boutman que editava o blog microgrooves que infelizmente não existe mais, uma verdadeira esta jóia! Nosso imenso obrigado.

acima: Stellinha no estúdio da TV Rio, em seu programa semanal.

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Stellinha Egg 1956 “Músicas do Nosso Brasil”
RCA Victor [BPL 3022]

01 Luar do Sertão [Catulo da P. Cearense, J. Pernambuco] canção 1952
02 Prenda Minha [Tradicional, adpt. Stellinha Egg] baião 1951
03 Recado à Yemanjá [Roskilde, Stellinha Egg] toada-baião 1954
04 O Vento [Dorival Caymmi] canção praieira 1953
05 Baião de Diamantina [H. de Almeida, R. Paes] baião 1953
06 Lamento Negro [Constantino Silva, H. Porto] macumba 1954
07 Lenda do Abaeté [Dorival Caymmi] batuque 1954
08 O Mar [Dorival Caymmi] canção 1953

09 Nunca Mais [Dorival Caymmi] samba-canção 1954
10 Noite de Temporal [Dorival Caymmi] batuque 1954

Arranjos para orquestra e coro do maestro Gaya.

05/08/2007

Onilda Figueiredo 1957 "A Voz de Onilda Figueiredo" [Mocambo LP 10026]

Este LP de 10 polegadas da gravadora Mocambo é uma das jóias da discografia brasileira nos anos 50. Onilda Figueiredo era quase uma menina quando gravou o bolero “Nunca! Jamais!” em um disco de 78 rpm de 1956. Foi um estrondoso sucesso no país inteiro. A versão feita pelo maestro Nelson Ferreira para o bolero original em castelhano de Lalo Guerrero, foi incluída no repertório de Ângela Maria, Ivon Cury, Neusa Maria, Rosa Pardini, Zezé Gonzaga e outros. Entre 1956 e 1958 a faixa “Nunca! Jamais!” foi uma das músicas mais ouvidas no Brasil. Nenhuma destas gravações no entanto, teve o mesmo êxito que a original lançada por Onilda, fato que levou a Mocambo a editar um long-play completo com sua então estrela, Onilda Figueiredo.

Fundada em Recife por Adolfo Rozenblit e seu irmão, a Mocambo produziu um catálogo bastante expressivo. Nunca ameaçou a hegemonia das “grandes” fábricas, mas no auge de sua atuação [entre 56 e 59] a Mocambo teve filiais em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, lançou inúmeros discos nacionais, licenciou outras diversas gravações estrangeiras, e ainda pôde contar com a direção artística de ninguém menos que Ary Barroso.

Foi neste cenário que a Mocambo colocou nas lojas do país “A Voz de Onilda Figueiredo” em 1957: registro único desta cantora de voz doce, “rouquinha”, interpretação meiga e um sotaque incrível que só adicionou charme às suas gravações. Vale destacar o trabalho do maestro Nelson Ferreira, que resultou num colorido todo especial às faixas. Piano, naipe de cordas, trompete, sax, flautas e percussão marcada. O repertório é basicamente de boleros, mas é uma delícia e de uma elegância surpreendente. Há uma bela canção de Fernando César, “O Luar e Você” [em orquestração primorosa!] e um divertido “calypso” “Mamãe Quero Dançar” em versão de E. Rodrigo. Além de “Nunca! Jamais!” e do bolero “Se Deus Assim o Quis”, outro belo momento é “À Beira Mar”, versão em português para um grande sucesso de Bienevido Granda, com direito a introdução especial do maestro Nelson Ferreira.

“A Voz de Onilda Figueiredo” é um disco que soa muito bonito passados 50 anos de seu lançamento. É o retrato sonoro de uma época, o registro muito especial de uma grande cantora e merece seu espaço na discografia da boa música brasileira.

No escritório da Mocambo: Adolfo Rozenblit o dono, os jornalistas Ari Vasconcelos, Brício de Abreu e Ary Barroso o diretor.

Onilda Figueiredo 1956 “A Voz de Onilda Figueiredo”
Mocambo [LP 10026]

01 Nunca! Jamais! [L. Guerrero, vrs. Nelson Ferreira]
02 Se Deus Assim o Quis [L. Quintero, vrs. Nelson Ferreira]
03 Loucura [Nelson Ferreira]
04 O Luar e Você [Fernando César]
05 Mamãe Quero Dançar [Manning, Hoffman, vrs. Eduardo Rodrigo]
06 A Beira Mar [José Barros, vrs. Nelson Ferreira]
07 Loucura Passional [Nelson Navarro, vrs. Nelson Ferreira]
08 Tu Em Meus Braços [Margarida Menezes Figueiredo]

Arranjos para orquestra do maestro Nelson Ferreira.

24/04/2007

Melodias Imortais com Pattápio Silva [BRLP 003]

Há exatos cem anos, falecia em Florianópolis, capital de Santa Catarina, um dos maiores músicos que o Brasil já teve. Pattápio Silva era seu nome. Viveu pouco, apenas 27 anos. A maior parte deles, dedicados à música.

Em seu tempo Pattápio, ou Patápio [os dois t's foram abolidos com o passar dos anos], foi considerado um fenômeno musical espantoso, e se tornou mestre de seus mestres. Mais do que virtuose em seu instrumento, a flauta, Pattápio provaria ser um artista extremamente sensível e inspirado, e também um compositor completo. Sua música possuía uma beleza misteriosa, a imprensa de seu tempo atestou: “gênio igual, não mais apareceria neste século”.

Por ocasião do centenário da morte do flautista, o jornal Diário Catarinense, em seu caderno de cultura, publicou uma bela reportagem escrita pelo jornalista Maurício Oliveira, detalhando a passagem de Pattápio Silva pela cidade. A matéria na íntegra pode ser lida aqui. Foram incluídas também, imagens raras pertencentes ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

O músico, em fotografia de Valério Vieira.

Pattápio Silva nasceu na vila de Itaocara, no Rio de Janeiro em 22 de Outubro de 1880. Sua família era simples, o pai barbeiro. O menino que aos 12 anos já trabalhava ao lado do pai, ganhava respeito e admiração dos colegas da pequena vila, tirando som de canudos de madeira ou bambus, com apenas 5 furos. Tocava no intervalo do trabalho e logo a barbearia se via lotada: “Aquêle pobre instrumento serviu para grande reclame, não só dos negociantes do tal artigo, que passou a ser vendido em grande escala a todos os meninos, como também, para demonstrar a grande vocação de Pattápio.” - escreveu seu irmão Cícero Menezes em curta biografia publicada em 1953.

“Com apenas 26 anos Patápio era um célebre concertista, condição que alcançara ao se destacar como aluno do curso de flauta do Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro, a mais importante escola do gênero no país à época.” – escreve Maurício Oliveira. O jornalista descreve as circunstâncias de sua morte repentina, incluindo fatos pouco esclarecidos até hoje. Mas omite a informação de que os bens do músico [incluindo roupas, flautas e partituras] foram leiloados na capital Catarinense, para pagar uma dívida abusiva cobrada pelo dono do Hotel do Comércio – o prédio está em pé até hoje [foto abaixo] - relacionada a despesas com hospedagem e tratamento médico. Seu enterro na Capital Catarinense no entanto, teve honras de Estado e foi acompanhado por uma multidão comovida. A notícia abalou a pequena cidade que não chegou a ver o famoso músico se apresentar, e também chocou o país. Mais tarde seu padrasto conseguiu recuperar parte destes bens, pagar definitivamente a dívida e fazer o translado do despojos para o Rio de Janeiro.

Fachada do antigo Hotel do Comércio, centro de Florianópolis - hoje.

O gênio de Pattápio Silva ainda teve tempo de fazer as primeiras gravações de um instrumentista solo do país, para a Casa Edison, no selo Odeon. Deixou pouco mais que 15 músicas lançadas em discos de 78 rpms, gravadas a partir de 1904 até o ano de sua morte, 1907. Registro único da dimensão do que foi a sua arte. Pattápio sofreu por conseqüência de sua posição como músico excepcional. No ano de sua morte, estava magoado e sentia-se desiludido com a sociedade musical a que pertencia. Muito jovem ainda, mulato e de origem humilde, ele não era levado a sério pelos maestros e professores, até estes o ouvirem tocar. Foi ovacionado nos salões e banquetes elegantes, mas teve problemas financeiros por toda a vida. Dominou o seu instrumento, mas o julgava imperfeito, a flauta não lhe oferecia todos os recursos e queria mudá-la para que pudesse executar plenamente sua música. Pretendia visitar fábricas na Europa e assim, tentar aperfeiçoar o instrumento. Para bancar a viagem, iniciou uma turnê de excepcional sucesso por diversas cidades entre o Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, e finalmente Santa Catarina. Era o auge e o fim de sua curta, mas espantosa trajetória.

Selo do disco com a música "Só Para Moer" na Odeon.

O Bossa-Brasileira reuniu 12 gravações históricas de Pattápio Silva nesta coleção, todas realizadas para a Casa Edison. Composições para flauta e piano, algumas eruditas, outras populares, numa fusão estética que só um artista genial como Pattápio Silva poderia executar.

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Melodias Imortais com Pattápio Silva

01 Variações de Flauta [Pattápio Silva]
02 Serenata Oriental [Ernesto Kohln]
03 Noturno [Pattápio Silva]
04 Só Para Moer [Viriato Figueira da Silva]
05 Serenata d'Amore [Pattápio Silva]
06 Alvorada das Rosas [Júlio Reis]
07 Serenata [Gaetano Braga]
08 Primeiro Amor [Pattápio Silva]
09 Dueto Para Flauta e Violino [Pattápio Silva] com Serpa ao violino
10 O Sonho [Pattápio Silva]
11 Serenata de Schubert [Franz Schubert]
12 Margarida [Pattápio Silva]

Bossa-Brasileira BRLP 003, gravações realizadas entre 1904 e 1907

Compilado e masterizado por Thiago Mello por ocasião do centenário da morte de Pattápio Silva - Florianópolis em 24 de Abril de 2007. Esta compilação não pode ser comercializada, é um presente do site Bossa-Brasileira.

Foto rara de Pattápio, encontrada no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

15/02/2007

Carnaval em Bossa

A coletânea Carnaval em Bossa [BRLP 002], parte da coleção Bossa-Brasileira, foi reeditada em Novembro de 2008 e pode ser baixada aqui. Abaixo, texto da postagem original:

“Através da música, o Carnaval do passado pode ser revisto. Algumas das marchas e sambas carnavalescos que se tornaram célebres - na verdade a sua grande maioria - não atravessaram o tempo. É uma produção que ainda está a ser descoberta. O blog Bossa-Brasileira produziu uma coletânea, com exemplos deste rico painel musical, também uma indicação de pesquisa. Aqui, apenas um singelo exemplo, um pequeno painel do que de melhor foi gravado em música de Carnaval no Brasil. São em sua maioria marchinhas, alegres ou melancólicas e alguns sambas. Todos representantes legítimos do som que se fazia e se ouvia no Carnaval Brasileiro de outras épocas...”

17/01/2007

Maysa no "Arquivo N" da Globo News

É com felicidade que anunciamos o especial Arquivo N da TV Globo News que focalizou nossa querida Maysa. A raridade das imagens nem se comenta, o segmento dela cantando em 1960 no Japão [primeira artista de nosso país a se apresentar por lá] é antológico, próximo do que fazia em seus programas de TV semanais no final dos anos 50. É possível através de 22 minutos fazer uma grande viagem e mergulhar na arte de nossa maior estrela. Embarquem nessa onda com Maysa.

* 14.11.07 update - infelizmente a Globo News retirou o especial do ar, esperamos que ele seja disponibilizado novamente via youtube.com. Enquanto não é, nossa filial, Bossa-Filmes possui diversos vídeos da Maysa para o seu deleite AQUI.

16/01/2007

Publicidade Brasileira das Décadas de 30 & 40 - I

Olá pessoal, o Bossa-Brasileira deseja um feliz 2007 à todos! Entramos no ano novo trazendo um pouco da publicidade de épocas passadas feita no Brasil. Na verdade, queremos anunciar que nossa modesta assinatura mudou, e como reflexo desta nova era que entramos, o espaço aqui também está diferente. Nosso trabalho cresceu e atingiu novos campos, muito obrigado à todos...

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Neurobiol, o Tônico do Cerebro já anunciava em 1936 na contra-capa da revista Eu Sei Tudo que o século XX trouxera além dos avanços materiais, novos problemas para a humanidade. Assim, novos remédios para os tais males surgiam, muitas vezes por meio de velhas fórmulas já há muito tempo conhecidas. “No turbilhão da vida moderna, a victoria cabe aos cerebros fortes!” Com exclamação e tudo. A imagem produzida à mão e em cores, assinada por F. Tarquino, possui todos os elementos que caracterizaram a revolução industrial daquele século.

Publicidade assinada por Annibal para a Cia. de Cigarros Souza Cruz, publicada na revista Eu Sei Tudo, edição de Abril de 1942. O artista obteve um belo - e por que não dizer - moderno efeito com a imagem chapada do fumante surgindo da sombra do maço de cigarros.

Na mesma edição da revista Eu Sei Tudo de 1942, havia também este belo exemplo de publicidade genuínamente brasileira. O “xarope para senhoras” Ovariuteran ganhou anúncio de página inteira com imagem “fotográfica”, lettering e reprodução da embalagem, tudo feito a mão e assinado por Sacha, Rio de Janeiro.

Na edição de Agosto de 1936 da revista Eu Sei Tudo, este anúncio de sabonetes já usava uma composição totalmente moderna, estilo usado na publicidade até os dias de hoje. Fotografia, desenho e lettering, com adição de textos informativos em diferentes “tipos”. “...Para a mulher moderna a beleza não termina nos ombros! Ela conserva a pele de todo o seu corpo suave e juvenil com Palmolive, diz a Sta. Madeleine Rosay, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.” A empresa responsável pelo anúncio [talvez a própria revista] e a bailarina Madeleine Rosay sem saber, protagonizaram uma das primeiras associações que se fez entre o mundo das artes e o da publicidade em nosso país. O “recurso”, importado de modelos estrangeiros, se torna bastante popular um pouco mais tarde, especialmente no final dos anos 40 e é matéria comum hoje em dia.