24/04/2007

Melodias Imortais com Pattápio Silva [BRLP 003]

Há exatos cem anos, falecia em Florianópolis, capital de Santa Catarina, um dos maiores músicos que o Brasil já teve. Pattápio Silva era seu nome. Viveu pouco, apenas 27 anos. A maior parte deles, dedicados à música.

Em seu tempo Pattápio, ou Patápio [os dois t's foram abolidos com o passar dos anos], foi considerado um fenômeno musical espantoso, e se tornou mestre de seus mestres. Mais do que virtuose em seu instrumento, a flauta, Pattápio provaria ser um artista extremamente sensível e inspirado, e também um compositor completo. Sua música possuía uma beleza misteriosa, a imprensa de seu tempo atestou: “gênio igual, não mais apareceria neste século”.

Por ocasião do centenário da morte do flautista, o jornal Diário Catarinense, em seu caderno de cultura, publicou uma bela reportagem escrita pelo jornalista Maurício Oliveira, detalhando a passagem de Pattápio Silva pela cidade. A matéria na íntegra pode ser lida aqui. Foram incluídas também, imagens raras pertencentes ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

O músico, em fotografia de Valério Vieira.

Pattápio Silva nasceu na vila de Itaocara, no Rio de Janeiro em 22 de Outubro de 1880. Sua família era simples, o pai barbeiro. O menino que aos 12 anos já trabalhava ao lado do pai, ganhava respeito e admiração dos colegas da pequena vila, tirando som de canudos de madeira ou bambus, com apenas 5 furos. Tocava no intervalo do trabalho e logo a barbearia se via lotada: “Aquêle pobre instrumento serviu para grande reclame, não só dos negociantes do tal artigo, que passou a ser vendido em grande escala a todos os meninos, como também, para demonstrar a grande vocação de Pattápio.” - escreveu seu irmão Cícero Menezes em curta biografia publicada em 1953.

“Com apenas 26 anos Patápio era um célebre concertista, condição que alcançara ao se destacar como aluno do curso de flauta do Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro, a mais importante escola do gênero no país à época.” – escreve Maurício Oliveira. O jornalista descreve as circunstâncias de sua morte repentina, incluindo fatos pouco esclarecidos até hoje. Mas omite a informação de que os bens do músico [incluindo roupas, flautas e partituras] foram leiloados na capital Catarinense, para pagar uma dívida abusiva cobrada pelo dono do Hotel do Comércio – o prédio está em pé até hoje [foto abaixo] - relacionada a despesas com hospedagem e tratamento médico. Seu enterro na Capital Catarinense no entanto, teve honras de Estado e foi acompanhado por uma multidão comovida. A notícia abalou a pequena cidade que não chegou a ver o famoso músico se apresentar, e também chocou o país. Mais tarde seu padrasto conseguiu recuperar parte destes bens, pagar definitivamente a dívida e fazer o translado do despojos para o Rio de Janeiro.

Fachada do antigo Hotel do Comércio, centro de Florianópolis - hoje.

O gênio de Pattápio Silva ainda teve tempo de fazer as primeiras gravações de um instrumentista solo do país, para a Casa Edison, no selo Odeon. Deixou pouco mais que 15 músicas lançadas em discos de 78 rpms, gravadas a partir de 1904 até o ano de sua morte, 1907. Registro único da dimensão do que foi a sua arte. Pattápio sofreu por conseqüência de sua posição como músico excepcional. No ano de sua morte, estava magoado e sentia-se desiludido com a sociedade musical a que pertencia. Muito jovem ainda, mulato e de origem humilde, ele não era levado a sério pelos maestros e professores, até estes o ouvirem tocar. Foi ovacionado nos salões e banquetes elegantes, mas teve problemas financeiros por toda a vida. Dominou o seu instrumento, mas o julgava imperfeito, a flauta não lhe oferecia todos os recursos e queria mudá-la para que pudesse executar plenamente sua música. Pretendia visitar fábricas na Europa e assim, tentar aperfeiçoar o instrumento. Para bancar a viagem, iniciou uma turnê de excepcional sucesso por diversas cidades entre o Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, e finalmente Santa Catarina. Era o auge e o fim de sua curta, mas espantosa trajetória.

Selo do disco com a música "Só Para Moer" na Odeon.

O Bossa-Brasileira reuniu 12 gravações históricas de Pattápio Silva nesta coleção, todas realizadas para a Casa Edison. Composições para flauta e piano, algumas eruditas, outras populares, numa fusão estética que só um artista genial como Pattápio Silva poderia executar.

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Melodias Imortais com Pattápio Silva

01 Variações de Flauta [Pattápio Silva]
02 Serenata Oriental [Ernesto Kohln]
03 Noturno [Pattápio Silva]
04 Só Para Moer [Viriato Figueira da Silva]
05 Serenata d'Amore [Pattápio Silva]
06 Alvorada das Rosas [Júlio Reis]
07 Serenata [Gaetano Braga]
08 Primeiro Amor [Pattápio Silva]
09 Dueto Para Flauta e Violino [Pattápio Silva] com Serpa ao violino
10 O Sonho [Pattápio Silva]
11 Serenata de Schubert [Franz Schubert]
12 Margarida [Pattápio Silva]

Bossa-Brasileira BRLP 003, gravações realizadas entre 1904 e 1907

Compilado e masterizado por Thiago Mello por ocasião do centenário da morte de Pattápio Silva - Florianópolis em 24 de Abril de 2007. Esta compilação não pode ser comercializada, é um presente do site Bossa-Brasileira.

Foto rara de Pattápio, encontrada no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.