18/12/2008

Trio Surdina 1956 "Ouvindo Trio Surdina Volume 2" [Musidisc DL 1009]



Quando Paulo Tapajós pensou em um conjunto instrumental para atuar em seu programa na Rádio Nacional “Música em Surdina”, convidou o amigo Garoto [Aníbal Augusto Sardinha, *1915 +1955] - um dos gênios das seis cordas que o Brasil teve a honra de ver nascer - para organizar o conjunto. Ele então indicou o seu próprio trio, que estava se apresentando com certa regularidade nos estúdios da Nacional. Garoto ao violão, Chiquinho do Acordeon [Romeu Seibel, *1928 +1993] e Fafá Lemos [Rafael Lemos Junior, *1921 +2004] exímio violinista e ex-músico da Orquestra Sinfônica Brasileira, eram a base melódica do conjunto. Uma formação diferente, ainda que acrescida de percussão [no primeiro disco a cargo de Bicalho] e contrabaixo [com Vidal], o foco era mesmo os solistas, e o resultando foi também uma sonoridade diferente. Garoto se empenhava há anos em formações musicais similares, ele parecia buscar um som específico, um dos embriões do Trio Surdina contava com Laurindo de Almeida no segundo violão, o violino de Mesquita e o contrabaixo de Faria: era o Garoto e Suas Cordas Quentes - foto promocional abaixo.

Garoto tanto conseguiu encontrar o som que procurava como também influenciou toda uma geração de músicos, como instrumentista e compositor. Segundo o pesquisador Jorge Mello - que escreve um livro sobre o músico - foi Paulo Gracindo na ocasião apresentador, quem batizou o conjunto de “Trio em Surdina” em 1952, na Rádio Nacional. Pouco tempo depois foram convidados por Nilo Sérgio, amigo, apresentador, cantor e dono do iniciante selo de discos Musidisc, para lançar uma série de LPs no formato ainda experimental de 10 polegadas, com oito faixas rodando em 33 rotações. Fafá Lemos contou que os discos não foram gravados em estúdio, mas sim editados a partir de acetatos gravados na Rádio Nacional, entregues a Nilo Sérgio por Paulo Tapajós.


Um dos embriões do Trio Surdina as “cordas quentes” de Laurindo de Almeida, Mesquita, Faria e Garoto.

Os disquinhos venderam bem, fizeram sucesso e rechearam o catálogo da Musidisc - que em poucos anos se tornaria vasto - com um padrão de extremo bom gosto e delicadeza, tanto no registro da música como também nas capas. Num esquema quase artesanal, infelizmente alguns discos eram prensados em material de baixa qualidade, no entanto Nilo Sérgio foi pioneiro na administração de uma gravadora nacional e esta ainda teve vida longa.

Em 1953 Fafá Lemos acompanha Carmen Miranda em mais uma turnê pelos Estados Unidos, gravando por lá o disco “Jantar no Rio” [1954 RCA Victor BKL 2] já em 12 polegadas - disponível aqui no bossa-brasileira. Em 1955 Garoto falece prematuramente vítima de problemas cardíacos. No mesmo ano o mundo musical brasileiro também cumpre luto por Carmen Miranda. Fafá retorna ao Brasil, mas não volta a gravar na Musidisc. Nilo Sérgio não desiste da “marca” Trio Surdina e remonta o conjunto com auxílio do excelente violonista Nestor Campos, para a gravação de mais LPs. Ao lado dos músicos Auro P. Thomaz, o “El Gaúcho” acordeonista e Joaquim Gonçalves Oliveira Filho, o Al Quincas músico originalmente saxofonista, mas no Trio Surdina encarando o violino com destreza.


O violonista Nestor Campos.

A intenção de Nilo Sérgio foi manter a aura musical criada por Garoto, e claro, impulsionar o sucesso fonográfico do seu selo. E foi bem sucedido. Mesmo sem a genialidade e ecletismo da formação original, o “novo” Trio Surdina, embora mais simples, também possuía brilho. Este disco é a prova. Lançado em 1956, possui uma sonoridade forte, com ênfase na percussão, e nos belos diálogos e fraseado dos solistas. A arrojada capa é assinada por Apolo, num resultado gráfico fora do padrão e absolutamente moderno para a época.

Como nas gravações do trio original, está aqui a mesma atmosfera de cabaré, evocando por vezes a música latina da Europa e suas tradições ciganas e através destas, a raiz árabe da música ibérica. Se a fórmula segue parecida, os músicos são outros - e claro, a visão muda. O destaque é mesmo o violão do Nestor Campos, gostoso de ouvir, preciso e com leveza. Há influencia do estilo todo particular de Garoto, mas Nestor se sai bem ao distanciar do estilo do mestre, buscando linguagem própria. Também o violino e o acordeon possuem momentos sublimes. “Linda Flor” de Henrique Vogeler por exemplo, é belíssima, com o solo de violino vibrante, valorizando a melodia pontuada com precisão pelo violão e o acordeon. “Jelousie”, clássico norte-americano, é revestida com elegância e desenhos sonoros de efeito sublime. O violino se destaca no choro “Comigo É Assim” de Luiz Bittencourt e José Menezes, com a intervenção perfeita do solo ligeiro de Nestor. Há também elegantes releituras para sucessos internacionais, como o fox “Charmaine”, a balada “Moonlight Serenade” e o bolero “Maria-lá-ô” de Ernesto Leucona, em arranjo belíssimo. Surpreendente também é “Iracema na Escócia” com bateria e violino em primeiro plano, soa como um casamento feliz e improvável entre a marcha escocesa e o samba brasileiro. Fechando o disco, um samba-choro assinado por Al Quincas “Você Não Gosta”, com destaque especial para o solo de acordeon do El Gaúcho. Um belíssimo presente aos amigos amantes da boa música!

Trio Surdina “Ouvindo Trio Surdina Volume 2”
1956 Musidisc DL 1009


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01 Jealousie [Jacob Gade]
02 Comigo É Assim [Luiz Bittencourt, José Menezes]
03 Charmaine [E. Rapee, L. Pollack]
04 Linda Flor [Henrique Vogeler]
05 Maria-lá-ô [Ernesto Lecuona]
06 Iracema na Escócia [Pernambuco]
07 Moonlight Serenade [M. Parish, G. Miller]
08 Você Não Gosta [Al Quincas]

Al Quincas: violino
Nestor Campos: violão
El Gaúcho: acordeon

para mais Trio Surdina visite as matérias de Jorge Mello:
Trio Surdina no site Musica Brasiliensis
Cancioneiro de Garoto no site Sovaco de Cobra
O Extraordinário Guitarrista Nestor Campos no Sovaco de Cobra parte 1
O Extraordinário Guitarrista Nestor Campos no Sovaco de Cobra parte 2
blog do Jorge Mello com diversas informações sobre a boa música brasileira
Trio Surdina no site Gafieiras - matéria de Ricardo Tacioli

02/12/2008

Marília Batista 1952 “Poeta da Vila nº 1” [Rádio 0001]

É com grande felicidade que trazemos aos amigos esta jóia da discografia brasileira. Trata-se do disco número um da pioneira gravadora Rádio, editado em 1952, com a cantora Marília Batista interpretando sambas de Noel Rosa em arranjos luxuosos do mestre Aldo Taranto. “Poeta da Vila” é considerado o primeiro long-playing em 33 rpms gravado e produzido no Brasil, ainda no formato inicial em 10 polegadas. Registros apontam que as gravadoras Sinter e Musidisc já haviam se aventurado no formado em 1951. Segundo o pesquisador Egeu Laus, o Brasil foi o quarto país do mundo a colocar no mercado discos em formato long-playing rodando em 33 rotações, depois dos Estados Unidos, Inglaterra e França, em 1951, com uma coletânea de Carnaval no selo Sinter. Tendo sido lançado em 1952, “Poeta da Vila” é comprovadamente um dos primeiros.

A cantora Marília Batista [*13.04.1918 - +09.07.1990] incentivada pela mãe, pianista e pelo pai, médico, desde cedo desenvolveu sua aptidão para música. Empunhando violão [fato incomum para as meninas na época], aos oito anos já compunha e sonhava em ser solista. Aos doze fez seu primeiro recital, apresentando composições suas entre sambas e canções regionais. Aos quinze anos - em 1932 - gravou seu primeiro disco em 78 rpms com duas parcerias feitas com o irmão Henrique Batista. No ano seguinte, já está acompanhada por Noel Rosa, como destaque no famoso Programa do Casé, na Rádio Philips, o mais ouvido na época. A cada programa, novos sambas do também famoso poeta da vila eram apresentados.
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Foto histórica pertencente ao acervo do cantor Almirante, nos estúdios da rádio Mayrink Veiga: Mário Moraes, Cyro de Souza, Henrique Batista [irmão de Marília, também compositor], Marília Batista, Fernando Pereira, Renato Batista [irmão de Marília, também compositor] e Noel Rosa.

Marília Batista e Noel Rosa se conheceram em 1931, ela tinha quatorze anos, quando ele a viu se apresentar em uma festa, a sintonia foi imediata. Ao lado de Aracy de Almeida, Marília Batista foi a mais importante intérprete das composições de Noel Rosa. Boa moça, Marília tricotava nos intervalos da programação, enquanto Aracy acompanhava os rapazes em intermináveis noitadas pelos bares cariocas. Dona de voz e personalidade igualmente fortes, Marília também possuía humor refinado, como seu amigo Noel. No Programa do Casé ela criou o seu próprio prefixo: “Fala o Programa do Casé... / Veja se adivinha quem é... /Faço a pergunta por troça / Pois todo mundo já conhece / A garota da voz grossa...”. Além dos programas de rádio, Noel e Marília também dividiram os microfones em diversas gravações históricas, lançadas em 78 rpms pela Odeon, em algumas acompanhados pelo regional do Benedito Lacerda.

O “garota da voz grossa” não pegou, Marília Batista ficou conhecida mesmo pelo apelido delicado de: “Princesinha do Samba”. Com a inauguração da Rádio Nacional ela passa a integrar o cast como parte do conjunto vocal As Três Marias, que além de estrelas do elenco, também acompanhavam outros artistas. As Três Marias também gravam alguns discos e aparecem no filme “É Proibido Sonhar” de Moacir Fenelon, lançado em 1943.

No início de Maio de 1937, uma notícia nos jornais abala o Rio de Janeiro: Noel Rosa morre aos 27 anos de idade, vítima de sucessivas enfermidades, agravadas pelo estilo de vida boêmio. Marília Batista ainda mantém a carreira com sucesso por mais alguns anos, mas ao casar-se em 1945, se ausenta dos palcos e microfones.

Até 1952, quando é convidada pela gravadora Rádio para estrelar o primeiro LP produzido no Brasil. Uma homenagem a Noel Rosa, com arranjos do maestro Aldo Taranto. Oito sambas, sendo três, instrumentais. O resultado é uma obra-prima. Dos primeiros compassos de “Feitio de Oração” [parceria de Noel com o pianista Vadico], até a última frase de “Dama do Cabaré”, Marília Batista e Aldo Taranto registram versões perfeitas, senão definitivas, em arranjos que ao mesmo tempo evocam e transcendem as gravações originais feitas na década de trinta. As belas “Quando o Samba Acabar”, “Pra Esquecer” e “Dama do Cabaré” são os maiores exemplos. Não há como não destacar a partitura orquestral nas faixas. Nem mesmo o arranjo ousado do pequeno conjunto em “Pela Primeira Vez” [parceria com Cristovão de Alencar], onde Taranto coloca sopros dialogando com uma guitarra elétrica de maneira magistral. “Quem Ri Melhor” sobrepõe o conjunto e a orquestra, com grande beleza nos desenhos melódicos dos violinos - enquanto o samba come solto, com percussão marcada, pandeiros e a participação vocal das Três Marias. Já “Com Que Roupa?” comparece instrumental com solo de guitarra - músico infelizmente não creditado [seria o grande Laurindo Almeida?] - e um solo assombroso de piano do mestre Taranto em pessoa.

Marília Batista 1952 “Poeta da Vila nº 1” [Rádio 0001]

Foram lançadas diferentes edições deste disco, a que usamos para digitalizar possui o vinil perolado nos tons preto, vermelho e branco. Existe também uma edição com o vinil predominante branco, mas perolado em vermelho e preto, outra com o vinil acinzentado, além do vinil normal, inteiramente preto. Se alguém conhecer edições em outras cores deste disco, entre em contato!

Destacar a importância de Noel Rosa é chover no molhado. Faço questão porém, de mostrar aqui um bilhete encontrado na primeira página do álbum de recortes mantido pela mãe do compositor, apenas como ilustração de seu incrível senso de humor:

Imagem pertencente ao acervo de João Máximo e Carlos Didier, autores da caprichada e obrigatória “Noel Rosa, Uma Biografia” editado pela Linha Gráfica em 1990.

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01 Feitio de Oração [Noel Rosa, Vadico]
02 Até Amanhã [Noel Rosa] samba
03 Quando o Samba Acabou [Noel Rosa]
04 Pra Esquecer [Noel Rosa]
05 Com Que Roupa [Noel Rosa]
06 Quem Ri Melhor [Noel Rosa]
07 Pela Primeira Vez [Noel Rosa, Cristóvão de Alencar]
08 Dama do Cabaré [Noel Rosa]

arranjos do maestro Aldo Taranto

19/11/2008

Paulo Tapajós 1956 “Melodias Imortais de Joubert de Carvalho” [Sinter SLP 1082]

É com grande felicidade que apresentamos este disco de 10 polegadas gravado por Paulo Tapajós e lançado pela gravadora Sinter em 1956. Raridade histórica, este LP traz interpretações únicas para canções do mestre Joubert de Carvalho. São valsinhas, canções seresteiras e toadas, arranjadas para orquestra, côro e pequeno conjunto pelo mestre das batutas Léo Peracchi - que segundo Paulo, no texto da contracapa, realizou a sobreposição de arranjos diferentes na mesma canção, em algumas das faixas. Somente pelas presenças de Paulo Tapajós e Léo Peracchi executando o repertório de Joubert de Carvalho, este disco já seria um clássico, mas consegue ir além. A beleza das faixas, a leveza dos arranjos, a voz econômica - sem a costumeira impostação exagerada da época - a delicadeza geral com que foi gravado, já mostra se tratar aqui, de mais um dos clássicos esquecidos da nossa discografia histórica.

Os músicos não são creditados, mas o instrumental é estupendo. Há um belo violão, diálogos entre vibrafones, clarinetas e flautas, e até mesmo solos de guitarra elétrica. A orquestra completam a massa sonora, com desenhos belíssimos, completando o efeito sublime das gravações.

“Olha-Me Bem Nos Olhos” abre lírica com a orquestra se desdobrando em coloridos inesperados, emoldurando a bela poesia de Aldemar Tavares: “...Mas quando eu repousar em cova rasa / E Deus, estrela ou flor, fizer de mim... / Estrela, eu fico sobre a tua casa / Flor humilde, abrirei no teu jardim...”

“Hula” é uma valsa hipnótica, com vibes, guitarra havaiana - a música foi certamente inspirada em melodias daquelas ilhas - além de côro feminino completando a beleza da composição com letra do poeta Olegário Mariano. Já “Nhá Maria” começa evocando música de câmara, com suas linhas de violinos e oboés, até se transformar em uma toada brejeira, misturando piano, solos de violinos e acordeons. Trabalho incrível de brasilidade única do mestre Léo Peracchi, que surpreende também na famosa “Maringá”, com arranjo composto apenas de vozes, com Paulo solando e o côro misto executando a melodia.

A deliciosa “De Papo Pro Á” foi gravada com pequeno conjunto, com percussão, baixos e sopros em primeiro plano, marcando a melodia famosa em arranjo belíssimo. Em “Taboada”, o clima volta a ser melancólico, novamente a orquestra completa é chamada em primeiro plano. Uma das mais lindas canções de Joubert de Carvalho é “Dor”, registrada aqui com grande delicadeza, em arranjo alternando entre o brejeiro e o barroco, com acordeons e os vibrafones passeando pelo ar e a melodia revelando o compositor também como grande poeta: “...diz alguém, que não tens morada / que andas aqui e acolá, qual paloma abandonada / onde moras, dor cruel pungente? / é na casa da saudade, onde vive tanta gente...”

“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...” “Cantigas da Minha Terra” fecha o disco com Paulo Tapajós cantando em meio a flautas, solos de harpa e vozes femininas. “Minha terra tem cantigas nas ruas em profusão / Que o vento passando leva diretas pro coração...” É de se orgulhar de ser Brasileiro!


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01 Olha-me Bem nos Olhos [Joubert de Carvalho, Aldemar Tavares] canção
02 Hula [Joubert de Carvalho, Olegário Mariano] valsa
03 Nhá Maria [Joubert de Carvalho] tanguinho
04 Maringá [Joubert de Carvalho] canção
05 De Papo Pro Á [Joubert de Carvalho, Olegário Mariano] cateretê
06 Taboada [Joubert de Carvalho, Adelmar Tavares] canção
07 Dor [Joubert de Carvalho] canção
08 Cantigas de Minha Terra [Joubert de Carvalho] canção

Orquestra, Côro e Pequeno Conjunto regidos pelo Maestro Léo Peracchi

18/11/2008

Daisy Guastini 1959 Compacto-Duplo 45 rpm [Arpége AEP 1003]

Foi dito que a voz humana é o mais belo instrumento musical que existe. Humildemente confirmamos a afirmação. No entanto, é triste descobrir que o descaso histórico com nossa produção musical, tenha relegado vozes como a de Daisy Guastini a um incompreensível esquecimento. Um atentado à cultura... Ainda bem que há pessoas obstinadas nas tarefas de redescoberta e de tornar acessíveis tais tesouros musicais. Discos como este, esquecidos em coleções particulares, ou sebos empoeirados, ficariam para sempre como objetos inúteis se decompondo no tempo. Usando a tecnologia do presente para resgatar a música do passado, prestamos serviço incontestável para a preservação da nossa própria cultura musical.

Temos aqui mais um tesouro: a voz de Daisy Guastini. Cantora nascida no estado de Minas Gerais, que iniciou sua carreira nos anos 50, como locutora e radioatriz da Rádio Inconfidência, e apresentadora da TV Itacolomi, ambas emissoras de Belo Horizonte. Casou-se com o compositor e guitarrista Nazário Cordeiro, união que gerou a filha Daisy Cordeiro, também cantora. Atuou em emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo e gravou pelos selos Arpége e RGE. Daisy Guastini ainda se apresenta ao vivo, em 2005 organizou um tributo à grande Isaurinha Garcia.

Aqui, ela interpreta alguns sambas-canção sofridos com personalidade ao lado do conjunto do pianista Waldir Calmon, também dono do selo Arpége. Seu marido, o guitarrista Nazário Cordeiro comparece tocando guitarra elétrica e violão. Ao lado de um conjunto intimista, com repertório e arranjos apropriados, a voz da cantora cresce, num resultado de elegância e extremo bom gosto. Ouso dizer que está aqui a melhor versão já gravada para o clássico “O Que Tinha Que Ser”, de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Há ainda outra canção de Jobim “Esquecendo Você”, onde a cantora destila calma, a tristeza que irá “ter que aprender a viver sozinha na solidão... eu vou ter que passar minha vida esquecendo você...” e no meio do caminho o samba-canção arrastado vira um fox marcado pelo piano do Calmon, numa alegria inusitada.

De Fred Chateaubriand e Vinicius de Carvalho“Noite Triste Sem Ninguém” com belo arranjo para violão e piano - combinação difícil, que resulta em perfeição. A bossa de Daisy Guastini e a bela melodia completam a beleza: “...embora vendo-te presente, ao redor tudo desmente / o que os sonhos meus contém / é faz-de-conta somente / noite triste sem ninguém...” E o piano e o violão ainda solam, com um vibrafone discreto completando a maravilha.

Para não terminar o disquinho no completo baixo astral - apesar de belíssimo - há o samba-canção de José Braz de Andrade, o “Delé”, “Basta A Luz da Lua”, onde desta vez finalmente, o amor é correspondido, marcando a esperança de dias felizes. Vibrafone, violão e o piano na bossa perfeita de um conjunto de “cool samba-canção”, apenas como suporte luxuoso para a voz limpa e aveludada da Daisy Guastini: “...basta a luz da lua, pra iluminar a nossa estrada / tendo nos meus lábios, esta canção apaixonada / dentro do meu coração, as palavras que nascem com grande emoção / vem expressar com razão, toda grandeza de minha paixão... / e assim eu vou convencida / sonhando estar nesta vida / nos seus braços embalada / canção que me faz feliz / neste estribilho que diz / basta a luz da lua e não precisa de mais nada...” Sem palavras.

Daisy Guastini 1959 Compacto-Duplo 45 rpm [Arpége AEP 1003]

01 Porque Tinha de Ser [Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes] samba-canção
02 Noite Triste Sem Ninguém [Fred Chateaubriand, Vinicius de Carvalho] samba-canção
03 Esquecendo Você [Antônio Carlos Jobim] samba-canção
04 Basta a Luz da Lua [José Braz de Andrade "Delé"] samba-canção

Roberto Luna 1957 "Molambo" [Odeon BWB 1086]

Dono de um vozeirão Roberto Luna, nasceu em Serraria, Paraíba, em 01.12.1926, e era chamado de “uma voz para milhões”. Morando no Rio de Janeiro desde 1945, iniciou como cantor em teatro de revistas, logo se tornando crooner de diversas casas de shows na cidade. Em 1951 foi contratado pela Rádio Guanabara, depois também atuou nas rádios Globo, Mayrink Veiga e Nacional. Na mesma época gravou seus primeiros discos em 78 rpms. Versátil, se destacava tanto nos sambas carnavalescos, marchas e sincopados, como nos sambas-canção, boleros, tangos e canções românticas. Fez grande sucesso na década de 50, deixou fonogramas gravados na Star, Musidisc, Odeon, RGE e Philips.

Este disquinho saiu pela Odeon, quatro faixas em 45 rotações, e capinha especial com lettering do grande César G. Villela. Apenas uma das faixas já havia sido lançada anteriormente, “Molambo” de Jaime Florence e Augusto Mesquita, na mesma gravação, mas em versão estendida no disco de 10 polegadas “Uma Voz Para Milhões” [Odeon MODB 3063] lançado em 1956.

Nos arranjos, não creditado no disquinho, está o maestro Luiz Arruda Paes, conduzindo orquestra e côro com a destreza e o capricho que lhe era habitual. O repertório curiosamente passeia por canções que se imortalizaram em vozes femininas. “Molambo”, “Caminha” [de Rolando Candiano e Evaldo Ruy, sucesso na voz de Elizeth Cardoso], a famosa “Conselho” de Oswaldo Gulherme e Denis Brean, e a belíssima “Alucinação” samba-canção de Newton Teixeira e Macieira Nascimento. Um registro muito caprichado, dos melhores gravados por Roberto Luna.
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01 Molambo [Jayme Florence, Augusto Mesquita] samba-canção
02 Caminha [Rolando Candiano, Evaldo Ruy] samba-canção
03 Conselho [Denis Brean, Oswaldo Guilherme] samba-canção
04 Alucinação [Newton Teixeira, Macieira Nascimento] samba-canção

Orquestra e Côro regidos pelo Maestro Luiz Arruda Paes

17/11/2008

Carnaval em Bossa [BRLP 002]

Começamos com a reedição da coletânea “Carnaval em Bossa”, depois de muito tempo fora do ar, ela volta com nova capa e ajustes no som. Agradeço a paciência dos amigos que nunca deixaram de pedir pela reedição.

“Através da música, o Carnaval do passado pode ser revisto. Algumas das marchas e sambas carnavalescos que se tornaram célebres - na verdade a sua grande maioria - não atravessaram o tempo. É uma produção que ainda está a ser descoberta. O blog Bossa-Brasileira produziu uma coletânea, com exemplos deste rico painel musical, também uma indicação de pesquisa. Aqui, apenas um singelo exemplo, um pequeno painel do que de melhor foi gravado em música de Carnaval no Brasil. São em sua maioria marchinhas, alegres ou melancólicas e alguns sambas. Todos representantes legítimos do som que se fazia e se ouvia no Carnaval Brasileiro de outras épocas.”

“Uma das preferidas da casa Aurora Miranda comparece em quatro faixas, irresistível como sempre. Sua irmã Carmen Miranda, em três - incluindo a impagável “Good-bye” [de Assis Valente]. Há outra Carmen - a Barbosa - que bela voz ela revela e que sincopado! As Irmãs Pagãs também destilam sua beleza. E que dizer da voz de Lolita França em “Tahí” [Joubert de Carvalho]... Era a bossa de 1939... Há também os cantores, os obrigatórios Francisco Alves, Mário Reis, Almirante e Orlando Silva. Carlos Galhardo também é um dos preferidos da casa, ouçam “Mariposa” [de João da Baiana, Wilson Batista] e tirem suas próprias conclusões. A malandragem também não poderia ficar de fora, neste quesito temos Vassourinha, Noel Rosa ao lado de Marília Batista e a inacreditável Dora Lopes. Para não falarem que o samba é somente carioca temos também a graça de Isaurinha Garcia. Alguns dos melhores intérpretes e muitos dos melhores compositores: Assis Valente, Herivelto Martins, Benedito Lacerda, Ismael Silva, Noel Rosa, Lamartine Babo, Wilson Batista, Haroldo Barbosa, Custódio Mesquita, Antônio Almeida e outros, a lista é longa. Este é “Carnaval em Bossa”, um belo presente!”

“Carnaval em Bossa” [BRLP 002]

01 Lolita França “Pra Você Gostar de Mim [Tahi]” [Joubert de Carvalho] 1939
02 Aurora Miranda “Que Horas São Estas” [A. Almeida, O. Santiago] 1939
03 Almirante “História do Brasil” [Lamartine Babo] 1933
04 Dora Lopes “Velho Borocochô” [Dora Lopes, J. Batista, N. Viana] 1954
05 Almirante “Menina Oxigenê” [Hervê Cordovil, Lamartine Babo] 1933
06 Carmen Miranda “Good-Bye” [Assis Valente] 1932
07 Irmãs Pagãs “Água Mole em Pedra Dura” [M. Moreira, S. de Mello] 1939
08 Carmen Barbosa “Loteria do Amor” [Aldo Cabral, Benedito Lacerda] 1940
09 Orlando Silva “A Primeira Vez” [Marçal, Armando, Bide] 1940
10 Aurora Miranda “Quando a Lua Vem Saindo” [Alberto Ribeiro] 1938
11 Carlos Galhardo “Mariposa” [João da Baiana, Wilson Batista] 1940
12 Aurora Miranda “Não Vejo Jeito” [Ismael Silva] 1939
13 Carmen Miranda “E o Mundo Não Se Acabou” [Assis Valente] 1938
14 Dalva de Oliveira & Francisco Alves “Andorinha” [H Barbosa, H Martins] 1945
15 Aurora Miranda “Se a Lua Contasse” [Custódio Mesquita] 1933
16 Vassourinha “Chik Chik Bum” [Antônio Almeida] 1941
17 Carmen Miranda “Ao Voltar do Samba” [Sinval Silva] 1934
18 Carmen BarbosaNo Picadeiro da Vida” [B. Lacerda, H. Martins] 1937
19 Quatro Ases e Um CoringaMarcha do Caracol” [A. Teixeira, Peterpan] 1950
20 Mário ReisMais Uma Estrela” [B. de Oliveira, H. Martins] 1934
21 Francisco AlvesVai Meu Samba” [Custódio Mesquita] 1936
22 Isaurinha Garcia “O Sorriso do Paulinho” [Gastão Viana, Mário Rossi] 1942
23 Aurora Miranda “Mania de Malandro” [Herivelto Martins] 1938
24 Noel Rosa & Marília Batista “De Babado” [João Mina, Noel Rosa] 1936

16/11/2008

3 anos de Bossa-Brasileira!

Neste Novembro de 2008 o blog Bossa-Brasileira completa 3 anos. Vimos nascer e crescer um universo de blogs e sites enfocando a música brasileira de outros tempos, outros fecharam as portas e deixaram saudades. De nossa parte, concluímos que mesmo impossibilitados de uma grande freqüência de posts, possuímos admiradores fiéis, o que nos incentiva a continuar sempre, apesar de todas as dificuldades. O blog passou por mudanças, reformas, todos os links estão no ar e novos posts entrarão nos próximos dias. Um grande abraço a todos, e feliz aniversário!

19/08/2008

Lana Bittencourt 1955 "Lana Bittencourt" [Columbia LPCB 35017]

Este é o primeiro disco em formato long-playing, ainda em 10 polegadas, lançado por Lana Bittencourt, em 1955 via Columbia, com fonogramas lançados anteriormente em discos de 78 rotações de grande sucesso. A aceitação do formato LP era ainda modesta e algumas gravadoras preferiam reunir faixas já consagradas em um único produto melhor acabado, do que lançar novas gravações. Muitos artistas tiveram coletâneas de sucessos extraídos dos discos em 78 rpms, como seus primeiros LPs. O resultado era que o novo formato ia criando belas coleções, discos que atravessaram o tempo, preservando a estranha beleza que a música brasileira possuía na época.

Em 1955 a gravadora Columbia possuía um dos melhores estúdios de gravação do país, já familiarizado com o sistema em alta-fidelidade, em uso nos Estados Unidos desde o início da década. A qualidade do registro pode ser percebida em pequenos detalhes como o brilho na voz e nos demais instrumentos, a percussão em destaque e os arranjos orquestrais em profusão impressionante. O que os engenheiros de som conseguiam com os recursos e o sistema da época é de causar espanto.

Lana Bittencourt [nome artístico de Irlan Figueiredo Passos] foi cantora de grandes sucessos, conhecida pela voz perfeita em timbre forte, derramada em sambas e canções internacionais. Estrela das rádios Tupi e da Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, chegou a ter um programa exclusivo na TV Paulista, em São Paulo. Em discos estreou em 1954 pela gravadora Todamérica, passando para a Columbia no ano seguinte, onde permaneceu por muitos anos. Atua até hoje em discos e shows.

Temos aqui os primeiros grandes sucessos de Lana Bittencourt, em uma coleção elegante, a começar pela belíssima capa. Dos primeiros acordes da orquestra em “Malagueña”, fantasia espanhola de Ernesto Leucona, versão em português de Julio Nagib, até o último suspiro do samba-choro “Porque É” de Milton Legey e Paulo Menezes, temos o privilégio de acompanhar a essa bela voz brasileira passeando por oito paisagens musicais. Destaque para a versão em português, também de Julio Nagib, para “Johnny Guitar”, grande sucesso internacional de Victor Young, trilha-sonora do filme homônimo, com arranjos incríveis do maestro Renato de Oliveira, com direito a solo de clarinete. Mas há também o belo samba-canção de Ricardo Galeno “Quem Se Humilha”; outra fantasia de Ernesto Leucona em versão de Julio Nagib, “Andalúcia” em belíssimo arranjo, destaque para a cascata de melodia promovida pela orquestra; e o samba-sincopado [seria uma pré-bossa nova em 1955?] “Pobre Menino Rico”, de Vargas Jr. e Oscar Bellandi, com letra mais que atual: “Pobre menino rico, da zona sul da cidade / embora tenhas de tudo, não tens a felicidade / não jogas bola de gude não sabes rodar pião / não podes pisar descalço a terra seca do chão...” Coisa finíssima!

Lana Bittencourt 1955 “Lana Bittencourt” [Columbia LPCB 35017]

01 Malagueña [Ernesto Lecuona, versão Julio Nagib] fantasia espanhola
02 Johnny Guitar [V. Young, versão Julio Nagib] bolero
03 Quem Se Humilha [Ricardo Galeno] samba-canção
04 Andalúcia [Ernesto Lecuona, versão Julio Nagib] rumba
05 Vai [Go] [R. Evans, A. Aristone, versão Nazareno de Brito] fox
06 Pobre Menino Rico [Vargas Jr., Oscar Bellandi] samba
07 Juca [Haroldo Barbosa] fox
08 Porque É [Milton Legey, Paulo Menezes] samba-choro

Para mais Lana Bittencourt, visite o Bossa-Filmes onde há imagens raras da cantora em 1960, aqui.

10/08/2008

Roberto Inglez 1954 "Um Programa com Roberto Inglez" [Odeon LDS 20.007]

Simplesmente fantástico, este LP foi lançado no Brasil em 1954 pela Odeon no formato de 10 polegadas. À primeira vista pode parecer mais um disco no estilo dos de orquestras de danças, que fizeram muito sucesso e hoje ressurgem nos sites que disponibilizam LPs antigos, mas pelo contrário, “Um Programa com Roberto Inglez” é uma preciosidade musical e de colorido inédito.

Roberto Inglez - na verdade Robert Inglis - nasceu na Escócia em 1913 e aprendeu piano aos 5 anos de idade, aos 15 já possuía o seu próprio conjunto. De origem simples, estudou e chegou a trabalhar como dentista durante o dia e como maestro à noite. Mas o talento musical falou mais alto. Em 1937, estudando regência na Royal Academy of Music em Londres, conhece o maestro Edmundo Ros, membro na época da Don Marino Barreto’s Cuban Orchestra, especializada em música latina. Quando Edmundo Ros deixou Don Marino para formar sua própria orquestra, recrutou Robert, sugerindo o nome artístico Roberto Inglez - já que ele seria o único britânico na formação. Sua estadia ali durou pouco e logo partiu para formar sua orquestra. Com a Segunda Guerra Mundial, a produção artística na Europa é praticamente interrompida e as primeiras gravações profissionais só surgem no final de 1945. No ano seguinte, Roberto Inglez é contratado pelo Hotel Savoy, casa do famoso pianista Carrol Gibbons, e um dos mais sofisticados hotéis de Londres.

Seus discos foram lançados pela Parlophon britânica, pela Coral americana e pelas associadas Odeon na Espanha e no Brasil, e venderam grandes quantidades de 78 rpms e long-playings. Todas as suas gravações trazem a paixão pelos rítmos latinos, especialmente os brasileiros. Em 1952, veio ao Brasil pela primeira vez e liderou uma orquestra de músicos brasileiros com 30 integrantes, em apresentações no Rio de Janeiro [quatro semanas no Hotel Casablanca] e em São Paulo [duas semanas no Hotel Lord]. Diz a lenda que nesta ocasião acompanhou as primeiras apresentações da iniciante Ângela Maria. De volta à Londres, Dalva de Oliveira foi estrela de seu set por duas semanas no Hotel Savoy, encontro que fez nascer 17 registros antológicos lançados no Brasil em LPs da Odeon. Em 1954, casou-se e foi morar no Chile, formando lá a Roberto Inglez y su Orchestra Romanza. Voltou ao Brasil em outras temporadas e para mais gravações na Odeon, se retirando dos meios musicais no início dos anos 60. Faleceu em 1978 na capital Chilena, Santiago.

Este é provavelmente o seu quinto LP no formato 10 polegadas, os outros neste formato, foram lançados nos Estados Unidos pelo selo Coral a partir de 1951. Aqui, o repertório de primeira, é executado com brilho e vigor, em gravação excelente para os padrões técnicos da época. O piano econômico, pinçando notas no silêncio, contribui para a beleza geral e faz pensar: teria Roberto Inglez ajudado a criar o estilo largamente difundido no Brasil com Waldir Calmon, Britinho, José Luciano, indo até João Donato e claro, chegando a Antônio Carlos Jobim?
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O LP abre com uma versão arrasadora do baião “Delicado” de Waldir Azevedo, com direito a chuva de sopros e cordas, numa aula de arranjo. “Mano Generosa” [Texldor] coloca cha-cha-cha na mistura e um solo de trompete com surdina - coisa incrível. O samba-canção “Distância” de Marino Pinto e Mário Rossi, acalma o ambiente e por segundos pensamos que o disco voltará ao padrão musical que estamos acostumados - até a melodia ser levada ao espaço por detalhes fantásticos, beleza indescritível. O tempo fecha de novo, e bongôs anunciam “Marroco” [Fields, Shaw], melodia árabe em roupagem latina, encontro inusitado com metais e sopros em primeiro plano. Em “Calla, Calla” [Samuels] aparecem cavaquinhos e a melodia, dessa vez judaica, vira um sambão de orquestra, com palmas e solos de metais. É de espantar como ficou bonito. “Raminay” [Lawrence, Fain] traz o piano pontuando belos desenhos da melodia, que é desconstruída pela orquestra num crescendo até a explosão final. Em seguida, o baião “Kalú” de Humberto Teixeira, também ganha belo arranjo. O rítmo acelera com “Sururu” [do maestro Lôro], piano em primeiro plano em meio às cascatas melódicas promovidas pela orquestra, percussão pesada e novamente cavaquinho. “Heart and Soul” [Carmicael] beguine muito famoso na época, é suave, melodia deslizando pelo espaço sendo moldada com delicadeza, sem repetir uma única frase. O set encerra com “Brasileirinho” de Waldir Azevedo, acelerada e com estranho colorido. O silêncio final é ainda mais vazio, o que parecia ser uma salada sonora deixa saudade... só resta ouvir tudo novamente... e pensar: Bravo Maestro!
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01 Delicado [Waldir Azevedo] baião
02 Mano Generosa [Texldor] canção
03 Distância [Marino Pinto, Mário Rossi] bolero
04 Marocco [Fields, Shaw] rumba
05 Calla, Calla [Samuels] samba
06 Raminay [Lawrence, Fain] canção
07 Kalú [Humberto Teixeira] baião
08 Sururú [Lôro] samba
09 Heart and Soul [Carmichael] beguine
10 Brasileirinho [Waldir Azevedo] chôro

09/08/2008

Chiadofone!

Espantamos a poeira para anunciar mais um blog de conteúdo na rede, é o Chiadofone, produzido em São Paulo por um time de apaixonados pela música brasileira de outros tempos. “O selo discográfico português Chiadofone, encontrado por acaso num site russo nos idos de 2005, circulou no início do século XX e é o mote deste blog sobre música popular brasileira registrada nos chiados dos discos de 76 e 78 rpm.” é o texto que os apresenta. No interior muita informação e boa música, bons textos, e raridades como as primeiras gravações de Silvinha Telles, gravações raras de Denise Duran, irmã de Dolores Duran... Um blog de primeira, vida longa!

12/06/2008

O Fino do Bossa-Filmes

Alguns amigos perguntaram por que as postagens de vídeos haviam sumido do site, quero avisar que as postagens continuam no ar, só que agora no bossa-filmes, com todos aqueles vídeos já postados por aqui e muito mais.

Como foram surgindo muitos vídeos interessantes pela internet, além dos que já produzimos, resolvemos compilar todos em um único local, com visual apropriado, fácil de buscar e sempre com alguma novidade. Assim deixamos o bossa-brasileira mais livre para postagens dos discos que continuarão.

Quero agradecer a todos os amigos que nos visitam e todos aqueles que pacientes postam estes vídeos, muitas vezes raros, para visitação pública.

Destacamos o curta Casinha Pequenina de Humberto Mauro, produção dos anos 40; um video amador com a linda voz de Stellinha Egg [nossa recordista de downloads] interpretando Catullo da Paixão Cearense; uma singela homenagem ao flautista Pattápio Silva com a música "O Sonho";

A música de Nestor Amaral na trilha do filme surrealista "Rose Robbart" de 1936; o maestro Radamés Gnattali tocando ao piano Ernesto Nazareth, como nos tempos do cinema mudo; um belo samba com Dora Lopes, além de muitos outros momentos raros e especiais... É a Bossa do Brasil em imagens. Espero que gostem e um grande abraço a todos!

23/03/2008

Luiz Americano 1958 "Chora Saxofone" [RCA Victor BBL 1005]

É uma grande honra postarmos aqui um disco do clarinetista Luiz Americano, tanto pela raridade como pela qualidade e importância. A história musical de Luiz Americano se confunde com o desenvolvimento da música popular no Brasil. Filho de mestre de banda, Luiz Americano Rêgo nasceu em Aracaju no ano de 1900. Com o pai iniciou os estudos no clarinete aos 13 anos de idade. Ingressou no exército como músico instrumentista e viajou para o Rio de Janeiro, deixando a farda aos 22 anos para iniciar a longa carreira de músico profissional na então capital federal. A partir da década de 20 grava e se apresenta com as mais importantes orquestras do período, como as de Justo Nieto, Romeu Silva, Simon Boutmann, Raul Lipoff e outras, além de atuar em inúmeros conjuntos regionais. Depois de uma temporada trabalhando na Argentina, Luiz volta ao Rio e funda um dos primeiros conjuntos de jazz a surgirem no Brasil. Por não gostar de viajar deixou de acompanhar Carmen Miranda nos Estados Unidos, no entanto mesmo sem ter ido à terra do jazz, ganhou elogio do mestre do clarinete Benny Goodman.

Luiz Americano era veterano quando gravou este LP para a RCA Victor em 1958, ao lado de um conjunto regional para registrar um apanhado sublime de choros e valsas. Na maioria composições próprias anteriormente gravadas, ao lado de números de Joubert de Carvalho, Eduardo Patané e outros. Coisa muito séria. O que ouvimos aqui é o sax e a clarineta rirem e chorarem alternadamente, brincando com os sentidos do ouvinte com leveza e ironia impressionantes, nos transportando a uma outra dimensão onde a música é coisa divina, saída direto do coração e tocada por anjos.

Luiz Americano 1958 “Chora Saxofone” [RCA Victor BBL 1005]

01 Lágrimas de Virgem [Luiz Americano]
02 Numa Seresta [Luiz Americano]
03 Suely [Eduardo Patané]
04 Léa [Luiz Americano]
05 Assim Mesmo [Luiz Americano]
06 É do Que Há [Luiz Americano]
07 Lêda [Luiz Americano]
08 Tempero da Chiquinha [Luis de Souza, M. H. Santos]
09 Negrinha [Joubert de Carvalho]
10 Valina [Luiz Americano, Daniel Lustosa]
11 Choro de Caetetu [M. H. Santos, Salin Salomão]
12 Garrincha [Luiz Americano]

Norberto Baldauf e Seu Conjunto 1960 "Encontro Dançante" [Odeon MOFB 3137]


Este disco com o Conjunto do Norberto Baldauf é um pequeno tesouro perdido. Foi gravado pela Odeon em 1960, quando o conjunto gaúcho já era bastante conhecido e tinha vários discos lançados. “Encontro Dançante” a primeira vista parece um disco comum, no padrão da época. O repertório é incrível, com músicas que então faziam sucesso e até números da bossa nova, como “Este Seu Olhar”, “Brigas Nunca Mais” e uma belíssima versão de “Eu Sei Que Vou Te Amar” todas de Antônio Carlos Jobim, sendo que as duas últimas com letras de Vinicius de Moraes. Vale destacar ainda as latinas “La Barca”, “El Bodeguero” e também a italiana e divertida “Scapricciatiello”.

“Encontro Dançante” impressiona pela técnica, variedade e criatividade do conjunto e também pela sonoridade do registro em estúdio. Há som de órgão com Solovox, guitarra elétrica, piano vigoroso, acordeon, baixo marcante, ritmo sincopado e um eventual coro. São elementos simples que tomam dimensões inesperadas. Pode-se ouvir a satisfação dos músicos ao interpretar com tanto brilho e força canções mesmo singelas, que se tornam quase brincadeira irresistível de dança. Aliás, é um disco “Para Dançar” conforme se dizia na época, de primeiríssima qualidade...



01 Bom Que Dói [Luis Bonfá]
02 La Barca [Roberto Cantoral]
03 A Certain Smile [Paul Francis Webster, S. Fain]
04 Este Seu Olhar [Antônio Carlos Jobim]
05 Tu Me Acostumbraste [F. Dominguez]
06 To The Ends Of The Earth [J. Sherman, N. Sherman]
07 Scapricciatiello [F. Albano, P. Vento]
08 Da Cor do Pecado [Bororó]
09 El Bodeguero [E. R. Egues]
10 Brigas Nunca Mais [Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes]
11 Non Dimenticar [P. G. Redi, M. Galdieri]
12 Eu Sei Que Vou Te Amar [Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes]

28/02/2008

Lenita Bruno 1968 Lenita Bruno em Hollywood [Fermata FB 235]

Entre os muitos discos de bossa nova gravados nos Estados Unidos depois de 1965 há aqueles que realmente impressionam. Abraçada comercialmente por nossos vizinhos, a bossa nova impulsionou a indústria fonográfica norte americana ao lado do rock, firmando os dois estilos como principais produtos do comércio de discos na época. As gerações acostumadas à música mais sofisticada, como o jazz, tiveram na bossa uma injeção de ar puro e renovação. Muita música boa de verdade foi produzida e gravada, assim como muita coisa descartável. Nossa bossa foi trilha para ajudar a vender diversos produtos, de refrigerantes a passagens aéreas, de balas e chocolates a toalhas de banho, não havia limite para a imaginação dos nossos vizinhos. Tudo era bossa nova. Alguns artistas brasileiros embarcaram na onda e tivemos uma grande evasão de talentos atrás de melhores condições de trabalho. Muitos destes se entregaram ao sistema comercial, mas outros insistiram na arte. Luiz Henrique, Walter Wanderley e Lenita Bruno fizeram parte deste segundo grupo.

Lenita Bruno, treinada no canto lírico e intérprete de canções do universo musical norte americano durante as décadas de 40 e 50, abraçou a bossa nova com muita beleza e sofisticação em seus discos gravados nos Estados Unidos. Depois de deixar dois LPs clássicos como “Por Toda a Minha Vida” e “Modinhas Fora de Moda” [do selo Festa], Lenita partiu em 1964 e gravou com nomes como Laurindo de Almeida, Bud Shank, Claire Fisher e outros.

Este LP foi gravado em Hollywood, a edição nacional lançada em 1968 pelo selo Fermata [FB 235] omitiu como de costume, os nomes dos músicos e arranjadores. Mas é bastante possível que estejam presentes o órgão de Walter Wanderley [o toque inconfundível] e a bateria do mestre Paulinho. Com letras traduzidas para o inglês Lenita canta clássicos de Jobim [“Este Seu Olhar”, “Desafinado” e “Chega de Saudade”], Dorival Caymmi [“Acalanto”], Chico Buarque de Hollanda [“A Banda”, “Carolina” e “Tem Mais Samba”], Dolores Duran [“A Noite do Meu Bem”], Djalma Ferreira e Luis Antônio [“Cheiro de Saudade” e “Murmúrio”] e outros. Tudo emoldurado por belos arranjos com destaque para os metais, percussão, piano e órgão hammond marcantes. Um clássico. Agradecimentos ao Sr. Clóvis de Curitiba por ceder sua cópia para a nossa masterização digital.

Lenita Bruno 1968 Lenita Bruno em Hollywood [Fermata FB 235]


01 All I Need Is All I Want [Tem Mais Samba] [C. Buarque, vrs. M. Bergman, vrs. A. Bergman]
02 Off Key [Desafinado] [Jobim, Mendonça, Vrs. G. Lees]
03 That Look You Wear [Este Seu Olhar] [Antônio Carlos Jobim, vrs. G. Lees]
04 Summer Flower [Carolina] [Chico Buarque de Hollanda, vrs. C. M. Jones, vrs. N. Green]
05 Stay My Love [Dá-me] [Adilson Godoy, vrs. F. Jay]
06 Velvet [A Noite do Meu Bem] [Dolores Duran, vrs. F. Landesman]
07 No More Blues [Chega de Saudade] [Jobim, de Moraes, vrs. J. Hendricks, vrs. J. Cavanaugh]
08 Sleep My Dear One [Acalanto] [Dorival Caymmi, vrs. L. Hayton]
09 Taste Of Sadness [Cheiro de Saudade] [Djalma Ferreira, Luis Antônio, vrs. N. Miller]
10 One Heartache Ago [Murmúrio] [Djalma Ferreira, Luis Antônio, vrs. B. Raleigh]
11 Marching Along With The Band [A Banda] [C. Buarque, vrs. R. Cowen, vrs. L. Kerr]

07/02/2008

Luiz Cláudio 1959 Luiz Cláudio [RCA Victor BBL 1065]

LP espetacular, registra a maturidade artística de Luiz Cláudio, importante compositor e cantor que atuou da década de 50 até o início dos anos 80. Nascido em Minas Gerais, Luiz Cláudio ainda menino formou seu primeiro trio vocal. “Descoberto” por um produtor de rádio, passa a cantar na capital Belo Horizonte. A transição aos discos foi rápida e já com suas próprias composições. Acompanhando-se com um violão discreto e cantando de maneira mansa e voz aveludada, Luiz Cláudio teve influência de Lúcio Alves, Dick Farney e Tito Madi, além dos cantores de fox norte-americanos escutados através do rádio. Sua música chamou a atenção rapidamente da juventude e se tornou grande sucesso. Atuou em um programa próprio de TV e despontou como cantor romântico de bom gosto e compositor privilegiado, gravando sambas, sambas-canção, bossa nova, toadas, fox, jazz, música regional e até mesmo rock. Este disco registra a encruzilhada em que estava a música brasileira no momento que surgia a bossa nova. João Gilberto já havia gravado, e há algum tempo apareciam aqui e ali, os sambas sincopados com a nova batida. Luiz Cláudio embarcou na onda antes mesmo dela se formar e gravou neste LP, no ritmo novo a faixa “Menina Feia” de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorinni, autores da clássica “Chora Tua Tristeza”. O arranjo foi feito de improviso, “sem partes escritas” como diz o encarte - ninguém sabia direito o que era que estes rapazes estavam gravando. O resultado é fantástico.

Panorama variado, o LP possui arranjos orquestrais exuberantes, especialmente em “Amor Sem Adeus” de Luiz Bonfá e Antônio Carlos Jobim - onde uma dimensão inesperada parece tomar conta do som, arranjo de Mozart Brandão. Efeito semelhante há em “Noite de Ficar Sozinho” de autoria do próprio Luiz Cláudio com arranjo do maestro Nelsinho. Há ainda a balada “Meu Anjo Azul”, versão de Fred Jorge para “My Blue Angel” sucesso de Glen Stuart. A parceria entre Luiz Cláudio e o grande Fernando César, rendeu “História”, com arranjo latino do maestro Carioca - destaque no piano. “Carinho e Amor” sucesso de Tito Madi, também ganha arranjo sincopado. O fox intimista “Eu, Você e o Luar” de Hilário Alves e Celso Garcia, foi gravado apenas com violão, voz e um trombone - arranjo radical do Nelsinho, de clima enfumaçado de cabaré. O lado B do disco abre com a ótima guarânia - ritmo regional com raízes no Paraguai - “Oração de Amor” de autoria de Arsênio de Carvalho e Lourival Faissal. Melodia linda emoldurada por arranjo perfeito ao clima da canção. O disco volta ao samba-canção com “Só Deus”, sucesso de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, com uma combinação do registro grave da voz do Luiz Cláudio com arranjo perfeito pontuado por oboés e flautas. Sucesso também na voz de Maysa. Seguem ainda a bossa “Vou Fazer um Samba” novamente de Evaldo Gouveia. O fox em clima de big-band de Getúlio Macedo, “A Canção do Inverno”. O bolero de Floriano Faissal e Bruno Marnet, “Desencanto” traz belo naipe de metais, e finalmente o LP encerra com o grande destaque já citado: “Amor Sem Adeus”.

Luiz Cláudio lançado em 1959, pela RCA Victor [catálogo BBL 1065] é um dos muitos discos antológicos que foram lançados naquele último ano da década, como que abrindo espaço para as novas sonoridades que seriam absorvidas pela música popular brasileira a partir daí.

Luiz Cláudio 1959 Luiz Cláudio [RCA Victor BBL 1065]

01 Noite de Ficar Sozinho [Luiz Cláudio]
02 Menina Feia [Oscar Castro Neves, Luvercy Fiorinni]
03 Meu Anjo Azul [My Blue Angel] [Glenn Stuart, versão Fred Jorge]
04 História [Luiz Cláudio, Fernando César]
05 Carinho e Amor [Tito Madi]
06 Eu, Você e o Luar [Hilário Alves, Celso Garcia]
07 Oração de Amor [Arcenio de Carvalho, Lourival Faissal]
08 Só Deus [Evaldo Gouveia, Jair Amorim]
09 Vou Fazer Um Samba [Evaldo Gouveia, Almeida Rêgo]
10 Canção do Inverno [Getúlio Macedo]
11 Desencanto [Floriano Faissal, Bruno Marnet]
12 Amor Sem Adeus [Luiz Bonfá, Antônio Carlos Jobim]

Orquestra regida pelo Maestro Zaccarias
sob Arranjos de Nelsinho, Carioca, e de Luiz Cláudio

22/01/2008

Cantos de Aves do Brasil 1961 [Sabiá SCLP 10502]

Atravessando os movimentos da natureza, a primeira música a ser produzida no Brasil ressoava nos harmônicos impressionantes do canto dos nossos pássaros. A maior diversidade de espécies vegetais e animais sobre o planeta, produz sonoridades que assombram e nos levam a refletir sobre a grandiosidade da força maior que move este mundo, da qual nós seres conscientes temos nada mais do que dever de assegurar a sua continuidade.

No final dos anos 50, o engenheiro brasileiro Johan Dalgas Frisch, filho do ornitólogo e desenhista de aves Svend Frisch, partiu para regiões selvagens do interior do Brasil para se tornar um dos pioneiros em gravações desse gênero em todo o mundo. Registrando com equipamentos modestos os sons produzidos pelos animais da floresta, especialmente os pássaros, a sua grande paixão.

No início dos anos 60, a gravadora Copacabana criou o selo Sabiá especialmente para lançar estas gravações, que despertaram grande interesse, mesmo fora do país. Sendo que este é o primeiro volume de um total de quase 20 discos. “Cantos de Aves do Brasil”, teve grande sucesso comercial e se tornou um dos clássicos da discografia brasileira.

Conforme o padrão usado na época para gravações “educativas”, a narração feita por Oswaldo Calfat, pode soar datada, mas registra de maneira competente toda a intenção do autor, com roteiro de Martin Bueno de Mesquita, em nos levar a uma viagem sonora através das matas brasileiras. Há cantos impressionantes como os emitidos pelos Tucanos, hipnóticos como os do pequeno Saci, ou em escala cromática como os da Tovaca. Há também sons igualmente impressionantes de insetos, Rãs e Cigarras.

“Cantos de Aves do Brasil” nos alerta hoje do quanto estamos afastados da nossa própria natureza. A maior parte dos sons registrados aqui, não são mais ouvidos pela maioria das pessoas nas grandes cidades. Como disse no alto de sua sabedoria um pescador de mais de 80 anos nativo da Barra da Lagoa, aqui em Florianópolis: “que tristezas estarão reservadas ao homem no dia em que ele não mais escutar o canto dos passarinhos...”

Cantos de Aves do Brasil 1961 [Sabiá SCLP 10502]

Vozes da Amazônia 1964 [Sabiá SBLP 40375]

Vozes da Amazônia 1964 [Sabiá SBLP 40375]

“Vozes da Amazônia” faz parte da série lançada pela gravadora Copacabana, com o selo Sabiá, iniciada após o sucesso de “Cantos de Aves do Brasil”. Desta vez Johan Dalgas Frisch recria a expedição do explorador espanhol Don Francisco de Orellana, que em 1542 seguiu o curso do rio Maranhão até seu encontro com o mar. A narração ao romancear os fatos acompanhando a expedição, prejudica um pouco a audição, o foco deveria ter permanecido na fauna como no primeiro disco. Mas estão aqui os sons de diversos animais, não apenas de aves. Com destaque para o impressionante canto hipnótico do Uirapurú, gravado aqui pela primeira vez. Segundo uma lenda amazônica o canto do Uirapurú, que segundo dizem ocorre apenas uma vez por ano, tem a propriedade de trazer felicidade a quem quer que o escute. Fica aqui nosso desejo de felicidade a todos os amigos neste ano de 2008 que inicia!